sexta-feira, 28 de março de 2008

Sexto sentido

São eles que me fazem companhia nas noites mais frias, nos verões mais quentes, todos os dias, quase sempre eles estão aqui.
às vezes demoram, as vezes só passam, as vezes me tocam, às vezes só falam,Às vezes sussurram, às vezes gritam. Às vezes sei o que eles querem,quase nunca consigo lhes dar.
Alguns desistem, somem, outros persistem, voltam mais tarde, outros revoltam, bagunçam as coisas, se machucam, me desesperam.
Sinto seus toques indolores,sua aparência invisível e fecho os olhos. Mas não os vejo com esses, sim com a alma e essa não posso proteger de tal presença.
Se eles vem por bem, por mal, por vir.. Não sei. Desconheço suas vontades,tenho medo, não sei se é verdade. Confundo vida e morte, real e fantasia e me pergunto se é insanidade. Será?
Me belisco, tento ver de novo.Não estou inventando, nem mentindo,antes fosse.
Queria ter certeza de que é só a cortina se movendo por causa do vento ou que as vozes são sonhos que tenho acordada,mas não consigo crer em nada.
Assumem as formas pra me apavorar,pra me confortar e estão aqui bem perto de mim quando me sinto mais sozinha. Se alimentam da minha vontade, disposição,alegria e eu tomo as dores deles, sem querer.
Não sei quem são, de onde surgem, o que querem. Mas mesmo quando não se manifestam sei que estão presentes e que andam comigo... sempre!

segunda-feira, 3 de março de 2008

A vencedora

Sou medrosa por natureza.
Fui criada cheia de cuidados e reparos. Nunca tive um arranhão,um machucado,uma perna quebrada mas também cultivei muitos medos e uma grande insegurança.
Alguns desses meus temores foram vencidos ao longo do tempo. Com terapia,com vivência,com amardurecimento e com muitos baques da vida tembém.
Mas da infância resistiram os medos de altura,escuro,do desconhecido,de coisas pontudas,de agulha, de vacina,de falar besteira e mais um montão de outros medos infantis.
Lembro do pânico do exame de sangue. Da sala de espera, do tamanho da siringa. Mas ao fim, uma sensação confortante de que eu havia encarado o maior dos desafios e o adesivo colado no vestido escrito "eu sou corajosa" fazia eu me sentir realmente assim.
Mas de uma forma geral sou sempre obrigada a enfrentar os medos por causas maiores. Pego aviões pra ver meu pai, tomo vacinas pra evitar doenças,conheço pessoas e lugares novos e sim, eu boto aparelho pra corrigir os dentes.
O ambiente do consultório já é um tanto amedrontador. Todo branquinho,cheio de aperelhos,luzes que eunão fazia idéia da finalidade e aquela posição da cadeira de dentista que me deixou imobilizada também não é nada legal.
Depois de algumas horas de sofrimento,estava pronto. Estava no seu dente ferrinhos que tornam incômodo sorrir,falar,fechar a boca,fazer expressões faciais muito fortes e que além de tudo não são nada charmosos. Depois de manha,choro e medo do espelho eu voltei a sentir o adesivo aparecer na minha roupa,uma sensação incrível de que mais uma vez eu havia resistido por obstáculo enorme. É claro que as minhas irmãs vão rir quando eu chegar em casa e vão me dar inúmeros apelidos, mas eu tive a coragem que elas não tiveram de arriscar,de enfrentar e por isso eu não me importo de sorrir, pois os ferrinhos colados no meu sorriso são a prova da minha coragem.

sábado, 1 de março de 2008

A minha disney



Agora parece desarrumado e sujo,abandonado e só.
Parece um monte de lixo entulhado,o buraco negro das coisas que somem na casa e do que já não tem utilidade, mas adormecem aí as minhas brincadeiras.
Esse lugar,que pra você não diz nada,foi minha floresta do tarzan, a casa da boneca,a casa da bruxa,a selva das ervas venenosas,o castelo da princesa e tudo mais que a nossa imaginação mandasse.
A sede do clubinho, nossa sala de reuniões,nosso salão de festas,nossos brinquedos,nosso parque de diversões.
Foi nossa cozinha pra experimentos,nosso laboratório, o lugar onde começamos e abandonamos os sonhos de criança.
Esse lugar,agora ermo e abandonado,guarda nossos desejos,nossas lembranças e os segredos das férias. Guarda com segurança a figura das crianças que fomos e nossos desejos mais ingênuos.
E esse lugar tão empoeirado, onde se joga tudo que não tem mais valor, guarda a Clara que fui e que sou e ainda me emociona