quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Somente só

Existem coisas que eu só posso ser quando estou sozinha, coisas que eu não sei fazer ou ver sob os olhos dos outros.
Características, reflexões, expressões, olhares! Manias, vícios, personalidades... Como se existisse outra Clara que só se revela pra mim mesma, no auge da minha solidão.
Talvez por isso eu goste tanto de estar só.

No máximo, na companhia do meu espelho. Para quem eu conto histórias, sorrio, jogo charme, choro... Tenho as mais distintas reações! Existe uma porção de mim, talvez a melhor, que em um ato egoísta, eu deixo escondida.
Eu canto muito quando estou sozinha. E protegida sob as minhas paredes, acho que sou muito boa. Mas a possibilidade de mostrar aos outros, me envergonha, logo passo a me criticar.

Aquela que eu mostro só pra mim, é corajosa e determinada. Destemida, enfrenta, encanta, exalta.
Olho no espelho e me lanço olhares que me emocionam, me seduzem, me traduzem, me impressionam. Como eu gosto disso que sou solitária!

Escrevo coisas que leio só pra mim, só pra essa pessoa que ninguém conhece. Acho que são as mais bonitas, as mais profundas. Então por que não consigo e nem quero mostrar a ninguém?
E como danço! Desenvolta, sem temer a nada! Sou capaz de dizer (sozinha, e apenas sozinha) que enfrento tudo, sem espadas ou escudos.
Sorrisos dos mais sinceros, e lágrimas, das mais sagradas. Tudo o que vem de mim, nessas atividades solitárias, vem da alma, é ilustre!

Mas se escuto passos, ou a porta se abrindo. (Meu Deus do céu, por que é que nunca batem na porta?), logo essa mulher tão articulada e livre murcha, se quebra em mil pedaços...
Passo a ser a menina amarrada, frustrada, observada, em cacos...

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Bonita

Cabelo curto, pra mim, sempre foi coisa pra mulher bonita. Pra mulher muito bonita!
Na minha cabeça, o cabelo seria capaz de moldar e ajustar melhor um rosto feio ou 'mais ou menos', como o meu. Na minha concepção, a solução pra quem não era extremamente bonita, seria cultivar longas madeichas.
E assim fiz, desde sempre.
Mas o cabelo foi se tornando parte da minha personalidade, do meu jeito de falar, de ser. Minha irmã me falou que eu sou a única pessoa que ela conhece que fala com o cabelo.
Sempre foi doloroso me tirar dedos, fios, cortar qualquer pedacinho que fosse da minha adorada cabeleira. Passei a achar que sem meu cabelo, eu estaria sem um pedaço de mim, seria uma completa estranha. Essa proposta me assustava, e sem pensar muito, eu negava essa possibilidade.
De uns tempos pra cá a ideia de mudança foi rondando a minha cabeça, até se tornar concreta. Um desejo. Ou mais que isso, uma meta. A ideia de tirar parte de mim, deixou de ser assustadora, mas agradável e desejada. A possibilidade de mudança antes tão sofrida, agora tão querida e esperada. Era a hora!
A vontade que foi crescendo dentro de mim, me fez esquecer o medo de parecer ridícula, o medo de não possuir a beleza necessária para ter cabelos curtos. Ainda um pouco temerosa, mas cheia de entusiasmo para a nova Clara que eu queria ver em mim, indiquei a altura desejada à cabelereira, que sem pena, retirou de mim (de uma vez só), quase a metade. Um grito (de animação e ansiedade) foi contido.
Fechei os olhos e apertei forte a minha própria mão, até estar tudo pronto.
Olhei o espelho, passei as mãos sobre os meus fios, um sorriso se fez sem esforço.
"Como é bom não ter cabelo"
Satisfeita com o que vi e com o que daqui pra frente, eu imaginei que seria.
Estranhamente, me senti corajosa e bonita. Bonita como aquelas mulheres de cabelo curto.
Mal posso esperar para ouvir os comentários: "O que você fez com seu cabelo, sua louca?!"

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

De bico calado

Tão difícil que eu me cale. Eu que falo demais, que exponho demais, que tagarelo, que me expresso pelos cotovelos...
Tão difícil que eu consiga frear minha ansiedade, meu ritmo acelerado de sensações e pensamentos.
Calei, silenciei...
Talvez por não saber dizer, talvez por não ter o que falar.
Definitivo? Nem pensar.
Tempo de uma semana, eu diria. Quem sabe uns três dias. Inconstante como sou... Pode ser amanhã.
Vamos viver assim dia após dia.
E começando por hoje eu vou ficar quietinha. Calada, caladinha...