terça-feira, 30 de junho de 2009

Última carta de amor

Amor meu,
Deixe-me! Por favor, abandone-me. Não posso mais conviver contigo dentro de mim.
Venho adiando esta carta pois temo o momento de deixar-te, pois saiba, de todas as perdas que me causaste, a pior será essa: a sua definitiva falta.
Às vezes salva-me da solidão, fazendo-me companhia, aquecendo meu coração, dando-me pequenas alegrias e causando-me emoções. Ah, meu amor! Foste tão venturoso, ensinou-me a viver, a ser feliz, foi retribuido e vivido a esmo. Provocou-me as melhores sensações, tirou-me os temores, deu-me coragem. Amor, você me fez tão bem!
Penso em todas as coisas que já me deste, todas as minhas lembranças e vai ficando mais difícil lhe dizer adeus. Desfazer-me de ti significa desfazer-me um tanto de mim, pois tua presença alastrou-se em meus campos até então desconhecidos e inabitados até fazer-se mais imponente que qualquer outra característica ou sentimento. Meu amor, és também porção de mim.
Lembro-me com clareza de quando chegaste em minha vida, a maneira como envolveste-me, possuíste-me. Tão doce, tão intenso!
Porém agora peço somente que se vá, seja somente uma lembrança, pois agora faz morada somente em meu peito.
O tempo tirou-nos a vivacidade, parte da resistência e também a reciprocidade.
Amor, por favor não pense que faço pouco de ti, que te desprezo. Amo-te tanto que nem sei medir e lhe sou eternamente grata por tudo o que me proporcionaste . Não tenho muito do que me queixar, és tão sutil que normalmente mal o sinto, mas ao menor sinal voltas a fazer-se presente e sinto apertar meu coração de saudade e nostalgia.
Sinto muito, meu amor, sinto tanto. Mas precisas ir embora.
Sinto-me vazia e desolada tantas vezes... Sinto ciúme, receio e até inveja. As tuas consequências estão apunhalando-me.
Perto de ti qualquer emoção fica pequena e até mesmo desprezível, mesmo as paixões que julgo fortes, mesmo os gostares que agora tomam-me. Amor, arrisco dizer que és indestrutível.
Choro em nossa despedida. No fundo, no fundo, não era esse o meu desejo, mas é o melhor pra nós. Lhe tenho muito apresso, mas ainda prezo mais por mim.
Amor meu, tu não mereces ser lembrança triste. Melhor que sejas uma vivência passada com odor de coisa boa que uma força imponente, cada vez mais frustrada.
Meu amor, não quero desfazer-me de ti dessa forma, assim, em definitivo, pois conheço bem de mim e sei que sentirei a sua falta. Se for o caso, volte a minha vida, mas por agora vá embora sem pensar em retorno.
Só lhe peço que não se perca no caminho, que não desvie do destino que lhe reservo. Voe para longe, mas retorne, abra de novo os meus armários, estarei a esperar-te.

domingo, 28 de junho de 2009

Ruído

- Eu te amo.
- Melhor você ir dormir. Já tá tarde, depois vai ficar cansado, com olheiras, querendo dormir enquanto tem um monte de coisas pra fazer, não é mesmo?
-Eu...
- Ah, estou tão cansada. Acho que vou me deitar também. Ultimamente não sei o que tem me dado. Ando com tonturas, cansaços intermináveis, preguiça de fazer tudo. Sem contar a dor de cabeça que tem me matado. Eu devo ter um tumor, não é possível!
- Escute, eu...
- Acho que vou ao médico. Isso se tiver tempo, essa semana está uma loucura! Não paro, estou sempre de um lado para o outro resolvendo milhões de coisas.Céus, Diabo de cabeça pra doer!
- Olha, eu...
- Vou tomar um remédio. Já é quarto analgésico que tomo hoje. Antibiótico é coisa pouca para mim. Outro dia a Cidinha disse que estou virando hipocondríaca. Ora, vê se pode! Como eu vou fazer todas as coisas das quais sou encarregada se estou sempre morrendo de dor de cabeça.
- Ahn, é. Eu...
- Bom, vamos dormir antes que minha dor de cabeça aumente por falta de sono. E você também deve ir pra cama, levanta cedo amanhã! Queria dizer alguma coisa?
-Não, deixa pra lá.

Benefício da dúvida

É claro que a verdade é sempre o melhor, por mais dolorosa que seja, mas às vezes queremos nos proteger na esperança de um "sim", de um "não". Às vezes preferimos ficar na infinitude de um "talvez", um "quem sabe" à romper as barreiras e entrar na limitação de uma certeza.
A verdade limita muito a gente. Sabendo "com certeza" de qualquer coisa, ficamos sujeitos ao que isso nos impõe. Mas a dúvida não, ela nos deixa esperar, sonhar, planejar.
Sou das que prefere a verdade nua e crua, tal como ela é, mas ainda assim, existem situações em que eu prefiro não saber, ou melhor, não ter certeza.
A dúvida às vezes é gostosa, é menos dolorosa, gosto de me esconder nela. Qualquer angustia cabe dentro de um "talvez" e desespera com uma confirmação.
Eu sei, eu sei, eu sei. Já tive provas, mais e mais evidências. Mas é que às vezes eu prefiro não saber, em muitos momentos(como esse) é confortante estar confusa.
Poder dizer a si mesma, enquanto rola na cama "nunca se sabe".

segunda-feira, 22 de junho de 2009

A menina e o mundo ou a caixa que não era de pandora


A menina vivia no seu pequenino mundo.
Era uma garotinha bem pequena, de bochechas e imaginação farta, os olhos preenchidos de todos os questionamentos.
Tinha medo de olhar pro céu, porque achava que poderia desabar sobre ela e se achava tão pequena pra carregar o universo...
Tinha medo de escuro(e isso não mudou), mas acreditava em anjo da guarda e na luz lilás que protegia sua cama à noite.
Quando seu pai lhe perguntou o que era cor-de-rosa, definiu como "um vermelho devagar" e até hoje gosta dessa cor. Quando seu pai lhe perguntou o que era helicópitero, respondeu com ares de sabida que era "um carro com ventilador em cima", e assim era a menina e o seu mundo.
Às vezes ficava quieta, às vezes falava tanto que ninguém podia controlar.
Passava todo dia pela casa abandonada e ficava parada, procurando beleza ou então notando-a tão fácil que mais ninguém pôde ver.
Quase dez anos mais tardes passou de novo por lá, não tinha mais a casa, não tinha mais beleza. Fez pose de forte, mas voltou pra casa e chorou.
Ela achava algumas pessoas feias, mas nunca dizia. E se lhe perguntavam "Clara, ela é feia?", respondia "Tem olhos bonitos", ou algo do tipo. Acreditava que toda pessoa tinha algo bonito, mesmo que fosse o mais simples.
Tinha uma amiguinha do ballet, que achava feinha, feinha que só, mas ela tinha uma ruguinha no canto do olho quando ria... um encanto! E quando ela falava, a menininha só olhava pra tal ruguinha e já achava sua amiga bonitinha.
Hoje já acha as pessoas feias e até diz, mas continua procurando a ruguinha de graciosidade em cada pessoa.
Quando lhe perguntavam o que queria ser quando crescesse, fazia uma lista quilometrica "Cantora-atriz-bailarina-escritora-apresentadora de tv-astronalta".
A lista incluia todas as artes e outras mais. Gostava de tudo! Cantar, dançar, fazer bagunça, mas se encantava mais pelas histórias. Imaginava as palavras como bolinhas coloridas e cada uma delas tinha um gosto, que ela podia sentir só de escutá-las.
Contaram a ela, certa vez uma história, sobre a caixa de pandora. Ficou assustada, os olhos saltados das órbitas, seu primeiro contato com maldade, a falta de pureza começava a contaminar o seu mundo ingênuo. Pensou que Pandora era toda pessoa e a tal caixinha de males era o mundo.
Teve então mais medo de descobri-lo e foi ficando mais tímida e reservada. Menos exibida, menos falante e de noite cobria-se da cabeça aos pés e tinha medo mesmo quando pensava na poderosa luz lilás do anjinho da guarda.
Andava olhando pra baixo, preferia ver seus sapatos à correr o risco de ter o infinito sobre as costas, ainda mais com toda a história da caixa. Queria ser uma pandora menos curiosa, mas era tão inevitável com o mundo que ela ainda tinha pra descobrir.
Decidiu que tinha o direito de ser Pandora também, de errar, de abrir a tal caixinha e espalhar os seus males, como todo mundo.
Encheu-se de coragem para viver.
Entregou-se ao escuro por alguns minutos, permitiu-se subir nos brinquedos altos da lagoa, que tinha tanto medo, fez castelinho de areia e olhou pro céu. Assombrou-se! Como tinha passado tanto tempo sem aquela sensação? E depois daquele dia, nunca mais deixou de olha-lo.
Sentiu-se completa, preenchida de toda alegria.
Seu pai lhe perguntou naquele dia se era feliz e por que?
Apenas pode dizer que era, mas sem conseguir dar muitas explicações, afirmou confiante "Quem é feliz não tem porquê".
Sorria satisfeita pela sua coragem, por ter encarado a beleza do risco. O mundo não era a caixa de pandora, embora apresentasse elementos surpresas.
Coisas muito boas, e coisas muito ruins também, teve que admitir.
Mas depois já não sabia se preferia o seu mundinho, ou aquele mundão que era sempre uma nova aventura.
Hoje a menina Clara, embora um pouco mais crescida e de bochechas e imaginação já não tão fartas, chorou com medo do escuros e dos males que tem que enfrentar, esses perigos, dores, fragilidades que todos estamos sujeitos só por viver.
Eu disse a ela "Anime-se, menina!" "O mundo não é a caixa de pandora, já é motivo pra sorrir!"

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Caos

Perdi-me na razão das coisas. Já não sei mais sentido e direção. Na verdade, talvez eu nunca tenha entendido isso. É normal de mim, demoro a entender as coisas.
Perdi-me no que acreditava, em minhas expectativas, dentro de mim mesma. Talvez nunca tenha em encontrado, talvez nunca vá. Possivelmente eu nem queira!
Perdi-me na razão das coisas, repito. Mas as coisas tem razão?
E eu, que razão tenho?
Questino, repenso, introspecto. Algo em mim busca explicação.
Tantas incertezas, clareza de nada.
Fujo do medo, temo temer, mas temo tanto que estou sempre nessa corda bamba do pavor.
Luz, cor, breu. Cor, breu, luz. Breu, luz, cor.
A voz já rouca cala, mas dentro de mim grita.
Que confusão! Já me disseram: todo mundo deveria se chamar confusão".
Eu me chamo, eu sou. Dentro de mim eu sou só caos.

Obs: não é pra ser bonito, muito menos fazer sentido.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

(Re)invenção

Tenho essa mania de recomeçar.
De achar que vai ser tudo diferente, se eu quiser, que eu tenho o poder de dar um novo ponto de partida. Que é sempre hora de uma nova corrida.
Resolvo que é hora de mudar. Até fisicamente, mas principalmente dentro de mim. No fim das contas, acabo sendo a mesma. Mas esta ilusão de mudança é boa.
É novamente um momento desses.
Quero de novo uma reviravolta, quero ser outra pessoa, quero uma revolução dentro de mim.
Papo antigo, conversa clichê, no meu caso. Mas não me incomodo, é sempre hora de modificar.
Tenho sede de vida. De sensações, de emoções. Não adianta! Entra mudança, sai mudança, eu continuo assim. Isso está no muito que fica(ou pouco que sobra) de mim.
Faz parte da minha mais nova revolução aceitar esse fato e tirar partido.
Pode ser besteira essa mania, essa coisa minha. Que seja!
Mas detesto viver de mesmice, de não ter pelo menos, a sensação de estar caminhando para algo novo.
Por que não nos reiventarmos?

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Romance intercultural


Pedro nasceu em Campo Maior, no Piauí, mas saiu de lá logo depois de terminar o colégio, com a desculpa de ser doutor na capital, mas o que ele queria mesmo era ir pro Rio de Janeiro estudar fotografia, e assim o fez. Conforme era sua vontade desde menino.
Anos depois sentiu saudade de casa e dos pais, com a sua câmera em mãos decidiu que ia fotografar sua cidade, o cenário onde tudo havia começado e onde lhe dera o primeiro impulso de correr mundo afora.
Com o título de "batedor de retrato" foi recebido pelos pais com abraços afetuosos. Queriam mesmo que ele estudasse medicina e morasse mais perto, mas pai é "bicho besta" (como dizem por aquelas bandas) e por fim, acabam orgulhosos dos filhos, sejam eles o que forem.
O festejo de Santo Antônio mal tinha começado, restava a Pedro duas semanas por lá.
Começada a procissão, Pedro perdeu-se na multidão que seguia cega e devotada a imagem de santo Antônio. Com a câmera em mãos, ficou enxergando o espetáculo pelas lentes.
Viu uma velhinha com um pano na cabeça e vestido florido, achou graça, um click. Viu a expressão de satisfação do patrono da festa que carregava a imagem de Santo Antônio com toda a responsabilidade, admirou-se, outro click.
Viu uma criança que empurrava os outros e fazia baderna atrás de um cachorro magro, mais um click. Estava começando a gostar da festa.
A lente de sua câmera passeou pela multidão que caminhava a esmo, avistou Maria. Mas à essa altura estava longe de saber que era esse o nome daquela moça tão formosa. Clicks e mais clicks, quis registrar toda a movimentação dela. Depois que viu Maria, não viu mais nada.

Maria adorava essa época. Mais que carnaval e mais que fim de ano. Nascida e criada em Campo Maior, adorava ver a cidade nessa agitação toda. Irmã de duas meninas namoradeiras - Ana e Antônia- Maria era o que podia se chamar de "cética". Não acreditava muito em paixão e nem se interessava pelos rapazes com os quais convivia. Em todo caso, não era muito cobiçada. Não por falta de beleza ou qualidades, mas possivelmente por não dar espaço para tais galanteios.
Sufoca pela multidão, saiu escapando entre as pessoas para tomar um ar. Sentou-se na calçada e ficou vendo tudo acontecer como em filme. Tinha essa mania de imaginar a sua vida cinematográfica. O céu exibia estrelas e milhares de constrelações e Maria tinha impressão de que estava mais bonito que nunca, só mesmo pra'quela ocasião que considerava tão especial.
Deixando seu objetivo de fotografar a procissão, Pedro saiu à procura da moça que tinha lhe roubado a atenção desde o primeiro instante. Avistou-a sentada na calçada, tão sozinha e pensativa, o céu e a multidão servindo de moldura. Mais click em sua câmera.
Seus olhares se cruzaram e as coisas ficaram embaçadas, só um ao outro ficavam cada vez mais nítidos. Sorrisos foram trocados.
Maria passou a imaginá-lo parte do filme que inventava e Pedro decidiu que ia fotografá-la, mas pelas retinas de seus olhos cada vez mais encantados por ela.
A conversa e o namoro de olhares na calçada durou a procissão inteira e se repetiu durante todos os dias do festejo. Os dois pareciam de mundos diferentes, mas adoravam desvendar um ao outro.
Enquanto Maria se perguntava confusa o que acontecia, Pedro se confirmava cheio de certeza.
Quando finalmente se beijaram, Maria achou que o céu fosse cair sobre os dois, tamanha foi a sua sensação de vertigem e Pedro tem certeza de que estavam acima das estrelas naquele instante.
Maria achava engraçado a maneira de Pedro de falar tudo que tinha "s" e quando voltava pra casa ficava imitando e rindo sozinha, causando estranhamento por suas irmãs, que nada sabiam do que acontecia. Pedro achava bonito o que Maria dizia e também o jeito dela de dizer as coisas. Quando ela ia embora ficava um tempo ainda prostado à porta de sua casa pensando "Maria, cheia de graça!"
Terminado o festejo, a história de Pedro e Maria estava longe de ter fim. Não se aguentaram de saudade, não conseguiram sustentar nem uma semana a ideia de viver um sem o outro.
Vão vivendo então de viagens e mais e viagens e cartas demoradas e repletas de saudade. De Rio à Piauí, os dois vão vivendo esse romance intercultural.
Sem saber ainda o final, Maria vai somando cenas e sensações à seu filme, que já é um longametragem e Pedro vai focando Maria por suas retinas ou pela lente de sua câmera, à cada foto que tira.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

O que ninguém mais vê.


O amor anda querendo ser visto.
Entre as esquinas, dentro dos olhares, até no mais banal
Mas é tímido, singelo, implícito
é preciso um tanto de sensibilidade e atenção
pra não deixar ele passar despercebido.

O amor anda esperando ser notado.
Dentro dos sorrisos, nos suspiros
fica à espera de ser um motivo, uma razão
O amor está querendo ser inspiração!
Mas por todo mundo, anda passando batido.

O amor, desacreditado, banalizado, distorcido
quer deixar de ser útopico, quer deixar de ser discurso Resolveu, quer ser vivência, quer ser vivido
sentido,libertado, percebido.
No entanto, anda escondido entre as sombras
apenas fantasma, mito, palavra batida, retorcida
que perdeu de vez o sentido, na boca e coração de tanta gente .
Está faminto de reconhecimento
Esperando corações pra aquecer, distâncias pra romper
Destinos pra entrelaçar, amantes pra devorar, possuir, incorporar
da forma mais doce possível.

O amor está pedindo pra ser visto
Entre as ruas, dentro de cada um, até no mais simplório
Mesmo as menores oportunidades de amor devem ser vividas
Não deixe que o amor perca o valor, não deixe que ele caia de vez no esquecimento
Não permita que o tempo o torne ainda mais distante e recluso.
Esteja atento aos olhares, sorrisos, flores, nuvens, ventos, à todos os cantos.
Note-o, sinta-o, viva-o.

Drummond pediu e eu imploro:
"Não deixe o amor passar!"

Uma pequenina observação: Eu estava guardando este tema para o dia dos namorados, mas a inspiração veio agora e eu não sei se poderia postar dia 12, portanto... Fica aí o que eu queria dizer a vocês no dia dos namorados, um pouquinho adiantado.

ps: Créditos à Isa pela foto, que eu roubei pra pôr aqui.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Para ver com outros olhos




Quantas coisas nos compõem!
Somos feitos de sentimentos, sensações, lembranças, sonhos... Por que não dizer que o cimento que sustenta nosso edifício inteiro, entre os tijolos sólidos da nossa construção seja uma boa dose de insanidade?
De sensível, de cético, de racional, de ingênuo, de romântico, de malandro, todos nós temos um pouco. E por que não dizer, um tanto considerável, de louco?
Talvez o rótulo de "maluco" seja uma maneira pejorativa de dizer "diferente". Afinal, não seriam esses insanos uma forma peculiar de gente? Pessoas que encontram uma maneira de sobreviver, se sustentar nesse mundo que de normal, (convenhamos!), não tem nada ?
Não seria a rotina, uma sala de espera de hospital psiquiátrico? Talvez todos nós tenhamos diagnósticos diferentes e a própria vida seja um tratamento sem final determinado, onde estamos sujeitos à altos e baixos e a adquirir sempre mais insanidade. Pra simplicar,ou quem sabe,apenas para conviver, tenho feito da normalidade, algo utópico e inexistente e da loucura, um prato de feijão com arroz. Simples, habitual e por que não dizer, necessário?

Loucura. S.F.1. Insanidade mental. 2. Falta de discernimento;irreflexão,absurdo, insensatez. 3. Tudo que foge às normas, que é fora do comum; grande extravagância. 4. Pessoa, animal ou coisa a que se devota grande amor ou entusiasmo.



No fim das contas, quem é que pode dizer que é lúcido?

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Visita do vento

Correndo solta a madrugada
dormia o sono pesado dos inocentes
Dos que esquecem da verdade, dos que mentem
Dos que adormecem os medos e pensamentos
Correndo livre a madrugada atróz
Sonhava muda com o vazio aberto
Como quem nada tem em mente
Como quem nada pensa ou sente
O vento que surrupiava pelo céu fazendo encrenca
Que dançava, bailarino lesto em um espetáculo solo e aberto pra ninguém ver
Veio me acordar egoísta e cruel gritando alto aquilo que eu dormia pra esquecer
Veio me contar o que eu não quero mais saber
Batendo com violência na janela pra me mostrar o que eu finjo não que não exergo
Aquilo que eu nego, minto e peco, mesmo sem querer.
Em seu monólogo barulhento e confuso me acusava sem cansar
me ofendia sem parar, me julgava sem cessar e sem pedir desculpa
Disse o que tinha pra dizer, invadiu a harmonia frágil da minha redoma
Destruiu a serenidade que compunha meu quarto naquele instante escuro da madrugada vazia e se foi...
Voar ligeiro por outras janelas, escancarar verdades à outros ouvidos, interromper a solidão silenciosa de quem prefere, por uma noite, fenecer à ferir.
Deixou-me sem mais a calma, sem mais a inocência e o calor da madrugada que me envolvia.
Largou-me no abandono, com as verdades dançando em minha mente, queimando na garganta, remoendo-se no corpo culpado e agora frio.
Sem conseguir mais dormir, ainda me perguntando se a visita do vento havia sido um pesadelo medonho, fechei os olhos me enganando, com a certeza de que em algumas horas o dia manifestaria sua vontade de nascer, e que mais vinte e quatro horas vazias e difíceis como aquele momento de questionamento, viria me assolar.
Eu ando sempre com sono, eu ando sempre com muito sono, desse sono inocente que o vento não me deixa mais sonhar.