quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Casa da madrinha

Lembro da ansiedade.
De ver durante a estrada o desenho das nuvens, imaginar histórias e perguntar à cada placa.
- Agora já está chegando, né?
Passar maravilhada pelas casinhas onde as mulheres faziam as unhas na porta,para aproveitar o vendo de fim-de-tarde. Perceber que a maioria da população tinha bicicleta como principal meio de locomoção e então,finalmente chegar à casa da madrinha.
Era como mergulhar no desconhecido. O país das maravilhas só pra mim e eu ficava estonteada com tanta novidade.Era um mundo novo à minha disposição.
A casa toda branca, com um jardim repleto de pés de acerola, pedrinhas e flores cor-de-rosa bonitas de botar no cabelo.
A casa da madrinha era minha fábrica de diversão. Os dois primos jogavam futebol e me levavam pra tomar sorvete, preenchiam as salas e quartos com sua presença barulhenta.
Da minha imaginação brotavam perguntas, histórias sobre a prima casada e a vida da madrinha.
Tantos mistérios e segredos! Presentes escondidos, brincadeiras,tantas coisas pra eu fantasiar e desvendar. Dizer pra dinda o que eu fiz durante o ano,contar meus méritos e o que fiz de bom pra ver sua expressão de orgulho.
Muitas coisas mudaram desde as minhas primeiras visitas, o tempo passa, causando diversas transformações à vida de todos e a dinda, não seria diferente dos demais.
Agora os primos, como a prima, casaram também. A casa da madrinha se tornou vazia. Sem o futebol, sem o sorvete e sem mais as minhas tantas perguntas.
Os segredos e mistérios foram quase todos desvendados, mas a sensação de chegar na casa da madrinha, será sempre a mesma.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

O muito que ficou

Sofro de crise interna constante, uma necessidade me mudar minhas atitudes,de me revolucionar.. Talvez freud explique, mas até a minha psicóloga ri quando anuncio mais uma dessas mudanças.
De tudo que vivo, absorvo e deleto muita coisa, e muitos sentimentos e caracteríscas passaram por mim.
Mas nesses 14 anos , desde que apresentei meus primeiros rastros de personalidade algo em mim se mantem.
Algo que está empregnado nesse um metro e meio de gente, que se manifesta no que eu escrevo, nos meus amigos, nas coisas que eu leio, nas minhas predileções.
Algo que fica, que resiste às minhas crises ..
E é esse muito que fica em mim, esse muito que depois de tudo ficou que eu vou mostrar nas minhas manifestações literárias por aqui.
Então peço licença pra abrir meus pensamentos e o meu coração.

S.O.S solidão

Em uma pequenina cidade, chamada piripiri, no interior do Piauí, onde quase toda a população faz parte da minha família, eu me sinto só.
é difícil admitir esse sentimento tendo perto de mim tios, minha avó, meus primos...
Mas eu me sinto flutuando em uma ilha deserta.
Com uma sensação de angústia que seria um paraíso para um masoquista. A companhia que tenho parece de outro mundo, ninguém pode ouvir o que meu coração tem a dizer, ninguém entenderia.
Estou sufocada dentro de pensamentos e sentimentos meus e uma saudade que dói dentro de mim, uma falta que é psicológica,emocional e física.
A falta da voz pra me acalmar de madrugada, quando a insônia me visita. A falta da presença, do abraço, da pele, do cheiro.. A falta de um pedaço de mim.
Eu sei que colo não resolve os problemas e deixa as crianças mimadas, mas agora.. é tudo que eu preciso.
Seria paradoxal dizer que quanto mais gente tenho perto, mais me isolo num mundo tão somente meu.. Onde ninguém tem acesso.

Caramba! esse sentimento que me perturba há dias, faz parecer que passaram anos.. cem anos de solidão !