quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Qualquer coisa que se sinta

Não descarto nenhuma emoção, não acho saudável. Mesmo que eu quebre a cara, despedace o coração, ainda que eu chore, ou me arrependa, eu sinto mesmo e sigo as sensações.
Até a raiva, até o desprezo, até a paixão intensa, até o amor que dói. Mesmo quem sofre é mais feliz do que quem não se aventura, isso eu sei.
Não vale à pena se proteger, fingir que não sente, não viver. Tenho o peito calejado, coração recolado, e me orgulho.
Gosto de sentir o frio na barriga de começo de paixão, o sol dourando a pele, sensação de orgulho por fazer algo bem feito, o algodão já gasto tateando a pele, fazer um amigo feliz, abraço de chegada, de despedida e até a dor de uma paixão. Tudo é válido, é construtivo.
Cada sentimento vivido construiu um pedaço de mim e por isso sou assim, essa colcha de retalhos. Destruo convicções antigas, pensamentos que eu julguei concretos, qualquer noção de razão, de disciplina, de lógico por uma emoção que digo sem vergonha, me domina.
Posso me tornar chata, falando sempre nessa linguagem melosa e emocional, mas digo e repito que as palavras não são nada perto de um abraço e que o sentimento é nada menos que intraduzível. Costumo dizer que meu maior talento é ser dotada de sensibilidade, ser sentimento dos pés à cabeça e minha maior ambição é continuar a sentir.
O que se pensa, o que se faz, o que se acredita... Passageiro, se muda.
Sagrado é o que se sente.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Rotina


Era fácil. Fazer o mesmo caminho mecanicamente. Esperar o sinal fechar, atravessar, passar rápido pelos lugares que eu acho feio, demorar nos lugares onde poderia encontrar meus amigos. Tomar cuidado naquela rua perigosa, subir a ladeira chata pensando que seria bom pra engrossar as pernas, chegar rápido em casa pra conseguir almoçar na mesa com a família, depois vencer o vício de internet e ir resolver minhas questões de física. Sem pensar, sem dor. Fazer tudo automaticamente, como um robô, como vinha fazendo todo o tempo todo até agora. Todas as tardes, todos as noites, todos os dias. E eu achando que vivia...

Entre pensamentos agitados nas cobranças da escola, em casa, entre preocupações triviais como se o tempo vai permitir a minha praia no fim de semana, se esse sábado vai dar bloco, se eu subo pra Santa de bonde ou de carro, mante as minhas gavetas arrumadas, ver se a minha irmã está dormindo ou continua fazendo bagunça no seu quarto, assistir os filmes que ainda faltam na minha lista e todos os livros que eu ainda quero ler esse mês. Entre os meus afazeres normais, obrigatórios e manipulados por uma rotina, por um dia-a-dia todo igual, de repente isso se quebra e eu descubro o que corre em minhas veias. Sangue quente, pulsante, eu sinto.

É fácil. É metódico. Acordo à mesma hora, faço as mesmas coisas, o mesmo horário,o mesmo café amargo, o anel de debutante, o relógio uma hora atrasado, o mesmo perfume, o mesmo jeito de ajeitar o cabelo, de manhã as mesmas pessoas, os mesmos assuntos, as mesmas metas, as mesmas programações, as mesmas músicas, as mesmas frases, as mesmas reações, meu discurso muito bem ensaiado de todos os dias.

Era muito fácil, impossível de errar. A mesma trajetória, era só seguir. Mas eu atendo e você diz "pretinha" e aí eu me desoriento...

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Pra te lembrar


Lembrei de ti nos corredores do aeroporto de Brasília, pois me recordei que da última vez que estive aqui, ansiava mais que tudo te ver, te abraçar e amansava minha angústia saudosa em telefonemas barulhentos do orelhão do aeroporto.

Sentei no mesmo banco próximo do orelhão e fiquei me vendo na cena, me observando gastar todos os cartões comprados. Como terminavam rápido aquelas unidades. Tudo era uma lembrança embaçada, mas eu me vi alí e me peguei revivendo as mesmas sensações.

Tocava como da última vez, o cd do djavan, a música que me era trilha sonora pra pensar em você. Será que não tem outro cd aqui, ou as conhecidências da minha vida continuavam fortes,mas algo me dizia que as minhas memórias sentimentais são tão intensas a ponto de me fazer ouvir "oceano" no silêncio frio que tem os aeroportos.

As pessoas pareciam as mesmas e eu por um minuto, fui a mesma.Como se meu coração tivesse se esquecido de todas as vivências desde aquele dia que eu revivia alí, naquele banco.

Eu me lembrei de você, do cheiro do cabelo, cheiro de algodão doce, da maciez da pele e do sorriso.De repente meu coração deu uma cambalhota. Nunca mais tinha me permitido pensamentos assim, tive sempre medo do que me causaria. Mas me lembrei de você sem querer, como uma poesia soprada ao ouvido em um momento inevitável de inspiração.O amor é livre, eu te deixei ir. E fui também pra um outro lado. Pensando que levava comigo tudo de mim, pensando que deixava contigo tudo de ti, mas amor não se esquece, e eu tinha me esquecido disso. Amor se transforma e eu lembrei disso, eu me lembrei de ti.

Eu me lembrei de ti porque na verdade, esteve e está o tempo inteiro este pedaço seu dentro de mim.

Muito, ainda e sempre mais.


Pra você,meu céu. Você sabe.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

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Eu tenho amor à minha terra.

Sou bairrista mesmo, nacionalista, porque o meu santo de casa, faz milagre.

Eu falo com sotaque carioca, mas meu sangue é quente, é dessas bandas.Ferve com batuques de maracatu e de forró, porque na barriga eu já ouvia a sanfona, o rei do baião e passava pelo meu cordão umbilical a carne de sol,marizabel e baião de dois.

Fui concebida aqui, e aqui vi o mundo pela primeira vez, e tenho orgulho ao olhar na identidade a minha origem de cultura rica,de história, de beleza.

A sede da minha alma só se mata com cajuína, os meus heróis lutaram na batalha do jenipapo, minha fé é sentir os olhos enchendo d'água nas romarias e prossições ao ver um povo bom que não se cansa e vai agradecer à Deus pelo pouco que tem, meu mar é o parnaíba, que é o maior das américas e eu como os primeiros homens pisei primeiro nestas terras, eu tenho a serra da capivara, eu tenho sete cidades de beleza natural, minha terra tem palmeira, minha terra tem carnaúba e meu paraíso, aqui.

O Piauí é único estado do nordeste cuja capital não tem praia mas o literal embora de curta extensão é o mais lindo não só do Brasil, mas do mundo.A minha poesia é de cordel, meu descanço é de rede, meu pôr-do-sol é no caldeirão e minha orla, é no Poty.

Minha terra não consome, não compra, não vende, representa pouco no Pib do Brasil e então não tem valor. Mas meus valores nunca foram estes mesmo,nunca me acostumei, porque eu moro nesse mundo mas minha casa é aqui e não á nada no mundo, como nosso lar.

Eu sou daqui, eu sou daqui, eu sou daqui. E me emociona como mais nada essa terra seca e esse chão rachado coberta de verde pelos canaubais.

falo mal, me queixo mesmo," é quente, é pobre, é pouco". Mas minto,omito, é muito, é tudo.Que mais ninguém levante a voz pra falar da minha terra.