quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Para Bruna


Beleza, leveza, sutileza.Foram as primeiras palavras que imaginei.Rimaram, pensei sorridente, acreditando que era um bom começo.Escrever algo bonito era o maior objetivo,algo que se equiparasse a tudo que noto.Tentei reconstituir a cena.Lembrar do sorriso, do olhar, do jeito.Brilho! Foi tudo que consegui resgatar daquela noite e de fato, o que eu mais notei dentre tantas boas características.Como brilha! Como tem luz em tudo que faz, como reflete essa luz aos olhares observadores como o meu, feito mágica.Mais que uma boa voz, uma voz sentida, que atua, que brinca e que ao fingir acredita no que canta, fazendo a gente se questionar se a menina apenas representa ou vive o que está sendo dito.Muito mais que a beleza, essa beleza superficial. Linda! Linda sim, na natureza mais primitiva e essência máxima da palavra.Como explicar o meu encanto, de fundamento que até eu desconheço? Como adjetivar, caracterizar sem ser vaga, alguém que me fascina de tombar, como?Como agradecer a importância que já adquiriu na minha vida e a graça de menina baiana que já coloriu meu preto e branco e fez toda a diferença.Como agradecer se faz sem querer. Se não ser flor, é fugir à sua própria essência.


Obrigada, Bruna.Por ser minha amiga e por ter essa voz tão linda que é um alento para a alma.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Mulher de verdade


Acabei de olhar uma revista onde a manchete principal dizia "Alessandra Ambrosio - a mulher mais sexy do mundo".
Embora eu ache que essas revistas servem somente para deprimir as mulheres que não conseguem ter corpos esculturais, resolvi olhar. Afinal, é bom ter um parâmetro do que está sendo valorizado.
A mulher era realmente bonita. Cabelos tingidos, corpo malhado, algumas cirurgias plásticas para tirar barriga, pôr peito, bunda e o que mais faltasse. A dieta: Algumas folhas de alface e horas de academia. A entrevista que vinha logo depois da foto muito bem pousada, maquiada e alterada no photoshop, revelou que junto com a falta de barriga, celulites e estrias, vinha também falta de cérebro. E um pequeno comentário da própria revista que dizia "Isso é que é mulher de verdade".
Não entendi. corpo falso, cabelo falso, pensamento falso, ensaiado. O que há de "de verdade" em tudo isso? Concordei que a moça era mesmo linda, até sexy também. Mas pra mim, ela é mulher "de mentira". Aquilo me enojou, fechei a revista.
Como não ser maravilhosa com horas de academia, sem se dar ao luxo de um doce, sem filhos, sem lavar roupa, sem carregar sacola de compras, sem ter que se dividir em 20 pra suprir tudo que lhe é exigido? Como não ser a mulher "mais bonita" do mundo vivendo somente em função disso, de uma vida vazia que só valoriza as marcas, o dinheiro e toda essa "beleza"?
Me arrisco a dizer que assim é fácil!
Eu quero ver continuar linda depois de uma gravidez, de quilos a mais, de manchas de sol, mesmo com algumas celulites e nem tantas horas de ginástica, com filhos pra buscar na escola, dando conta da casa, do trabalho. Eu quero ver continuar assim tão sexy quando as marcas da idade começarem a marcar o rosto liso e esticado, sem os tratamentos importados, sem maquiagem, à qualquer hora do dia.
Corpos de plástico, cérebros de plástico. Desde quando e por quê essa perfeição fabricada virou símbolo de "verdadeiro"
Continuar maravilhosa depois de um dia de trabalho, de filhos e de casa, de problemas, com rugas, quilos a mais, cansaço e suor e as imperfeições cotidianas, isso sim é ser mulher de verdade.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Ostra feliz não faz pérola


Meu pai olhou nos meus olhos cheios de dúvida e me disse com a voz doce e morna "Tenha paciência, filha. Ostra feliz não faz pérola."Era pequena, não entendi. Naquele momento e até o fim do nosso passeio de domingo a frase ficou martelando dentro de mim, fiquei tentando entender o que poderia significar, depois não dei mais bola, esqueci. Mas ficou arquivada dentro de mim esperando o momento certo para fazer sentido.As palavras do meu pai tem esse poder : de ser atemporáis e inesquecíveis.

Certo dia, em passeios solitários por uma livraria, como costumava fazer com meu pai, meu olhar curioso avistou a frase. Nos paqueramos por alguns instantes e logo o livro de Ruben Alves estava dançando em minhas mãos, revelando o que meu pai quis me dizer.Eu, ostra, animal manso, presa fácil, criei a concha dura dentro da qual vivo. Não me abro, há dor. Há um grão de areia.

Carrego esse grão com amor e fardo, desejando e negando a sensibilidade com a qual fui presenteada e amaldiçoada, pois nada mais difícil e delicioso que sentir em maior porporção.

Carrego meu grão. Ora arrasto com desprezo, ora envolvo com carinho. Guardo na concha para esconder, para proteger. Empurro, reclamo, mas não me desfaço, não quero.

Abro mão do sorriso constante. Prefiro dividi-lo com lágrimas sentidas e pensamentos sofridos, ganha mais valor.

Meu pesado grão! Gosto de tê-lo aqui. Doendo, coçando, mexendo, fabricando sempre mais uma pérola.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Motivo

Já me disseram que quem escreve exorcisa. Concordo. Jogo nas palavras toda a carga das minhas emoções, sejam elas boas ou ruins.
Se quem canta, espanta os males, não sei. Mas com certeza, é mais feliz.
Se tudo anda ruim, procuro cantar. 15 minutos, meia hora, ou pelo menos uma canção. Que me alegre ou que traduza o que sinto no momento.
Se tudo vai bem, se é o melhor dos momentos, quando ganha trilha sonora, alcança a eternidade.
Não ligo para a voz que desafina, que sai do tom, eu canto. E tudo ganha maior encanto ao seguir as notas musicais.
Canto os grandes compositores que admiro, as músicas que me tocam e até mesmo minhas bobas canções autorais.
Também danço e fecho os olhos. Sozinha no quarto ou na frente de todo mundo, deixo ir a vergonha e com o suor do meu corpo, sai tudo que há de indesejável.
Canto mais alto pra me proteger de tudo que há de hostil, me envolvo na bolha da minha própria voz e esqueço do que há de mal, naquele instante.
A canção que saí do coração e atravessa minha garganta até chegar aos ouvidos, carrega um tanto de mim, um tanto do que sinto e do que fala a canção.
Esse momento de mágica me faz continuar a cantar, sem mais nem por quê.
Me conhece melhor que ninguém, aquele que me ouve cantar com liberdade e sem vergonha de desafinar a canção que me revela.

"Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa"
Cecília Meireles.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008



vida às vezes leva as pessoas por caminhos diferentes.O destino ou o acaso, de vez em quando, mudam a direção do que parecia escrito, certo, para sempre.As mudanças nos tiram o convívio, a intimidade, os encontros diários, a graça que achavamos de algumas coisas bobas. Em alguns casos, até a confiança.Em vidas parelelas, as pessoas se modificam, viram muitas vezes outras e passado o tempo, não se tem mais nada em comum.Provavelmente, a maioria de nós irá se separar. Logo virá a faculdade, novos mundos, novas fases, novas pessoas. Um mundo totalmente novo se prepara para vir em nossa direção.Que a gente consiga ter a força suficiente para encarar o que há de vir.Ficará com cada uma de nós, nessa longa trajetória que ainda nos resta, o que aprendemos, o que viemos a ser, o que descobrimos juntas nos melhores anos de nossa juventude. Deixando de ser criança e começando a descobrir as coisas, a ter uma visão diferente e reparando coisas que antes, nem se notava. Quantas descobertas! Quantas manhãs compartilhadas, trabalhos de grupos, festas, fofocas, choros, risadas, mãos dadas para passar o medo, olhos fechados pra fugir do perigo, ou aquele abraço forte pra imortalizar o momento ou só mesmo, pra demonstrar carinho.Daqui a uns anos, é possível que tudo seja diferente.Eu não seja mais a que vocês conheceram, e vocês também, bem diferente do que eu vi. Que fiquemos juntas para sempre nas fotos, nas lembranças.Que fiquemos juntas nas histórias que lembraremos nas tardes chuvosas, que contaremos em uma roda com novos amigos, que exemplificaremos para nossos filhos.Que lembremos de como éramos quando nos faltar a meninice que hoje, salta de nossos sorrisos, que lembremos de como costumávamos achar as coisas bonitas, quando perdermos a inocência, e mais que isso : Que lembremos umas das outras, ao longo da vida, porque uma amizade tão bem construída, forte, firme é capaz de ir como o vento, por novas aventuras, mas não se apaga dentro de cada coração.Hoje estamos juntas. Mesmo com a distância, a falta de tempo, graças ao orkut, ao telefone e aos meios de transporte e comunicação modernos, mas não se sabe o que está por vir. Apenas queria que soubessem que haja o que houver, as levarei comigo em algum lugar de mim, da minha história, por todos os momentos que compartilhamos, emoções que vivemos e a amizade que cultivamos.

Poemeto erótico

Fitei os seus olhos doces, eles queimavam de desejo, de um jeito que me fez corar as bochechas.Cheguei meu corpo mais perto do seu, suas mãos tocaram minha cintura com firmeza.
Ele conseguia ser delicado e viril.Meu rosto ficou colado ao seu pescoço, o cheiro que me entorpecia. Beijei seu rosto com carinho.Envolvi meus braços em seu pescoço, segurei-os com força, beijei-lhe a boca com desejo. Seu beijo estava ainda melhor.Minhas mãos seguravam seu rosto, enquanto suas mãos passeavam leves, soltas por mim. Nos aproximavamos à cada instante mais, e eu queimava de amor e de vontade.Tirei a camisa que lhe cobria o corpo, o corpo que fazia, naquele momento, parte do meu. Beijei cada quinhão da sua anatomia perfeita e me deixei desassisar pela batida alta e rápida do seu coração. Abriu meus botões com delicadeza e calma, como se quisesse apreciar cada parte que aos poucos se deixava à mostra do meu corpo, cada parte que era sua também, que conquistava e possuia à cada toque.
- Teu corpo claro e perfeito, teu corpo de maravilha...
Sussurrou o poemeto erótico de Manuel Bandeira em meus ouvidos
Seu corpo se pôs sobre o meu. Senti seu calor, seu perfume, nos confundimos no entrelaços de dedos e pernas,fiquei sem saber onde começava meu corpo e onde terminava o seu.
Olhou detalhadamente a junção dos nossos corpo, analisou cada pedaço de mim, de maneira que me causou uma vergonha boba e boa.
- Quero possuí-lo no leito estreito da redondilha...
Continuou a recitar
-Eu te amo - sussurrei.
-Eu te amo mais - ele disse
Segurou-me com força, como se quisesse me impedir de ir embora. Como se eu fosse embora...
Cheirou meu pescoço e meu colo, que estavam muito próximos dele.
- Teu corpo é tudo que cheira...
Rosa...flor de laranjeira
Pegava emprestado as palavras de Manuel Bandeira, e essas me deixavam zonza com o som da sua voz.
- Teu corpo, branco e macio,
É como um véu de noivado...
Deslizou suas mãos por mim, não deixando que restasse nenhuma parte sem seu toque.
- Teu corpo é pomo doirado...
Rosal queimado do estio,
desfalecido em perfume...
- Teu corpo é a brasa do lume.
Completei. E foi minha vez de segura-lo forte. Meu corpo pediu que não me soltasse, que não me deixasse, que fizesse parte de mim.
- Teu corpo é chama e flameja
Como à tarde os horizontes...
Ouvia sua voz morna , mas dos seus olhos parecia sair a poesia. Os olhos verdes, hipnotizantes, que há muito me tiravam da realidade.
- E puro como nas fontes
Beijou-me a testa com carinho
- A água clara que serpeja,
Que em cantigas se derrama.
Pôs -se completamente sobre mim,apertei com desejo e gosto suas costas
- Volúpia da água e da chama...
Sussurrei.
Me olhava de um jeito doce, de um jeito ardente, de um jeito único.
- A todo momento o vejo...
Teu corpo... A única ilha
no oceano do meu desejo.
Senti sua boca, seu coração. Senti que éramos um só corpo, senti sua presença dentro de mim.
Vi a rosa em cima da cama, vi seus olhos, depois não vi mais nada.

Quanto tempo dura um "eu te amo"?

Uma semana, um mês de distância, quantos dias?
Um pensamento, até chegar outra pessoa, ocupações?
Por quanto tempo ainda pensou ou pensará em mim, se encantará, desejará?
Já me esqueceu?
Disse que me amava, que me queria. Já se apagou? Já passou?
Foi com a chuva, com as barreiras, com a dificuldade?
Quanto tempo dura um "eu te amo"?
Eu sinto saudade...

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Retalho


Meu coração é um mosaico.
Despedaçado e colado, remontado, concertado de todas as vezes que já se quebrou, se espatifou alto de alguma emoção para a qual foi voar.
Sim, e no final, acaba funcionando e virando até obra de arte.
à cada crise é preciso primeiro ver o que sobrou, juntar os cacos, outros tantos decidir que é hora de jogar fora. Catar aqueles sem os quais o desenho não se completa e descartar outros tantos que podem ser substituidos até por uma questão estética.
às vezes parece meio incompleto e imperfeito mas basta um pouco e outros pedacinhos novos vão completando o desenho que cada vez fica maior.
São tantas peças diferentes, nuances, cores, que se encaixam mal ou bem, mas acabam por conviver quase em paz, os pedacinhos todos.
Quando finalmente parece que acabou, que lá está, remontado e bem colado, pronto e seguro para assim ficar, de novo se soltam partes, quebra-se e é a hora de fazer tudo de novo.
E o mais engraçado é que quanto mais remendado e imperfeito, mais mal feito e confuso ele fica, mais bonito é de se ver.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

A arte do encontro

Ainda não fiz muitas coisas na vida. Talvez pela falta de tempo, de idade, talvez por destino, incapacidade, falta de tato, oportunidade, ou sorte, não sei.
Não causei impacto, não tive grandes feitos. Ainda não me descobri um astro de rock ou um gênio. Não fui uma criança prodígio, não tenho talento que me destaque, sou uma aluna mediana. Provavelmente o tempo não me fará grandiosa. Terei filhos, emprego e um salário que apenas pagará minhas contas, com sorte, algumas viagens de férias, e então vou entender tudo que minha mãe diz.
Os sonhos que hoje brotam quase geneticamente pela juventude serem cobertos de realidade quando a maturidade for apagando a meninice inconsequente da minha alma.
Terei uma vida normal, serei uma pessoa normal como tantas outras, continuarei perdida na multidão do anonimato, mas algo me salva e me salvará da mediocridade.
Pouco aprendi, nem tão pouco amadureci. Não cresci, nem construi, não modifiquei à ninguém e muito menos ao mundo, mas tenho a tendência à grandes encontros.
Em uma estante confusa, normalmente, pego o livro que sem querer mudará a minha vida, se abro uma página, passo os olhos pela frase que me será o insentivo ou consolo necessário.
Se mexo em caixas velhas, se arrumo o quarto ou armário, cismo de abrir uma velha pasta e acho antigo que só agora fez sentido. Descubro no silêncio e mesmo nos lugares mais improváveis, pessoas-flores que perfumam e preenchem minha trajetória de beleza. E até mesmo quando resolvo não seguir o meu instinto e esperar, algo sempre vem em direção à minha vida banal. Tantas coisas que eu nem merecia ter, conhecer, mas que mesmo sem por que, me encontram.

"A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida"
Vinícius de Moraes