quinta-feira, 30 de abril de 2009

Ela e ele.

- Você está louca?
Os olhos dele estavam assustados, ele estava nervoso com a minha inconsequência e irresponsabilidade e tudo que eu conseguia fazer era rir, sem parar.
- Pare de rir e me leve à sério, você sabe o riscos disso.
Eu sabia e me importava, me preocupava, mas sua expressão de nervosismo e medo, como eu nunca tinha visto me causava uma crise de risos, a qual não conseguia parar.
Me concentrei, respirei fundo, eu estava o deixando ainda mais nervoso e irritado.
- Me desculpe.
Forcei um ar angelical, fiz cara de séria e de culpada, ainda tentando conter o riso que fazia cócegas na minha boca, querendo sair.
- Tudo bem.
Rendeu-se um pouco, parecendo mais calmo.
- Só não faça de novo. Me promete?
- Prometo.
Beijou-me a testa delicadamente e virou de costas, pra mexer nos seus papéis, como fazia sempre.
Deu-me as costas e eu não pude mais me controlar, entreguei-me ao riso que tanto queria dar, em uma longa gargalhada. Controlando a vontade que eu tinha de ir provoca-lo. Eu tinha que esperar um tempo após a bronca que tinha acabado de levar e da qual, achava a maior graça.
Mas antes que eu pudesse ir em bora, segurou- me pela cintura, queria me dizer alguma coisa antes que eu deixasse a sala. Eu não podia mais resistir a vontade que tinha, segurei-o forte pelo pescoço e lhe beijei de um jeito a expor toda a vontade que eu estava sufocando. Ele retribui o ato, segurando-me firme e com voracidade. O riso ainda se fazendo presente dentro de meus pensamentos.
Ele reclamava tanto, mas como adorava a minha inconsequência!

terça-feira, 28 de abril de 2009

Encontros e desencontros

Ricardo ama Mariana, que é afim de Gabriel, que se interessa pela Mariana mas é muito amigo do Ricardo pra tentar qualquer coisa.
Os três se veem todo dia: No colégio, na casa da Mariana, na praia, nas festas. Não há um momento em que não estejam juntos.
Gabriel e Ricardo são amigos de anos, Mariana entrou depois pro grupo, mas desde então são inseparáveis, andam sempre juntos compartilhando de opniões, vivências, convergindo em ideias e sonhos e divergindo por completo em sentimentos.
Ricardo acha que Mariana foi feita pra ele. Que combinam em tudo, gênero e grau e de noite, quando se deita pra dormir, tem seu último pensamento, de que é correspondido.
Mariana faz de tudo. Penteia-se, arruma-se, faz pose de inteligente, joga charme, pra ver se Gabriel nota. E ele nota, mas pensa em Ricardo primeiro.
Ricardo e Mariana dariam muito certo, quem vê de fora a situação, pode mesmo acreditar que são feitos um para o outro. Mas Mariana não gosta de falar do assunto, fecha a cara só de ouvir um comentário e se irrita que ninguém fale pra ela algo à respeito de Gabriel, pelo qual não é apaixonada, mas se pega pensando em como poderia ser.
Gabriel e Mariana dariam muito certo, mas isso quase ninguém pode ver. Pois ninguém sabe como se dão bem , o clima que rola quando ficam sozinhos e a maneira com que Gabriel pensa nela, e a maneira como Mariana pensa nele.
Gabriel, Mariana e Ricardo se encontram todos os dias, toda hora e mesmo quando não estam juntos, pensam um no outro, mas nesses pensamentos e nos seus olhares estam sempre se desencontrando.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Sobre a Colombina, por ela mesma.


Será que alguém percebe a essência da menina?

Que samba, que pula, que freva, que brinca, que fantasia, que esconde, que mascara...

Será que alguém pode ver o que ela guarda atrás do sorriso e entender o que faz?

Pois não é que ela esteja sempre alegre, mas vive o carnaval e toda aquela obrigação de ser feliz e esquecer o que aflinge.

Tão cheia de defeitos e imperfeições, mas a essência romântica, a maneira de encarar com poesia o que acontece...

Talvez seja isso que encantou o Pierrot e com certeza foi isso que a fez notar o Arlequim, no meio do baile de carnaval, no meio de toda a confusão de serpentina.

Foi a sua essência bailarina, de se atrever às piruetas, mesmo sabendo de todo o seu desequilíbrio que a fez notar entre todos os olhares, aquele que lhe pareceu mais atraente. Pois tem mesmo essa mania!

Essa constante busca pelos sentimentos. Se lança, se atira, sem apego ao coração, sem medo, sem receio. Parece frágil, mas é tão destemida nesses assuntos sentimentais, que nem se importa com as barreiras e sabe que haverá sempre um outro carnaval.

Mas todo ano a mesma coisa, mas toda festa a mesma dor. O esforço pra sorrir na avenida, pra seguir o bloco, pra espalhar encantamento.

Tantas interpretações, tantas opniões. Alguém entende a Colombina? Alguém repara o que ela sente? Alguém enxerga o que ela vê?

Pois ninguém conta até o fim da história, sabe-se apenas que largou o Pierrot. Mas a menina que encantou na noite de carnaval, que lançou seu coração à todos os presentes no baile, que sorriu sincera por mais uma aventura, que dançou solta, que trocou de par, ficou sozinha na quarta-feira...

Sentada na calçada, ainda com o brilho que restou da festa, as expressões confusas marcadas no rosto, o coração em chamas, mas o corpo encolhendo-se de frio, tenta ainda consolar-se "Foi só um desencontro, Colombina. Acontece sempre, à todo mundo. Pense em tantos outros que gostam de você e você também não corresponde."

Assim simplica a situação, para de chorar e pode esperar contente o próximo carnaval, quando esquece o passou e vai brincar esperançosa de lançar mais uma vez seu coração...

Às vezes faz cara emburrada, briga, tenta se modificar, mas no fundo gosta de ser mesmo assim...

Ela mantêm essa contradição: Enquanto faz o Pierrot chorar, chora também atrás do Arlequim.

domingo, 5 de abril de 2009

Miragem


Algumas pequenas saudades me tomam por tardes inteiras, tiram-me da realidade e me levam de volta a um passado que parecia esquecido, seja ele próximo ou distante.
Alguma coisa me leva a tais memórias, seja uma carta escondida em um livro, um telefonema, uma foto, uma música, mas hoje foi um sonho.
Acordei cantarolando baixinho a velha canção que fez parte das minhas noites, das minhas fantasias, que foi trilha sonora da minha primeira paixonite, das minhas primeiras saídas, amigos, da fase mais feliz e proveitosa dos meus curtos anos de vida.
Lembro de acordar cedo aos domingos(ou eram sábados) e ir até copacabana pro ensaio, só pra ficar olhando aqueles que se tornaram meus amigos e meus ídolos e que até hoje continuam sendo ícones pra mim.As primeiras fofocas, vivências, farras, bagunças, brincadeiras, o grupo que se tornou família.
O tempo, a distância, as brigas, as enrolações e tudo o mais que faz parte da vida nos afastou, acabamos por criar grupos paralelos, mudando nossos sentimentos e hoje tais tardes, noites, dias, são apenas uma lembrança gostosa que me assola em sonhos e ao olhar pro porta retrato ao lado da minha cama. Bons tempos... Suspiro saudosa, como quem sente saudade de uma época distante, como quem muito viveu.
Mas o que importa não é quanto, mas a intensidade em que as coisas acontecem, e vivemos tudo na máxima potência, com toda a velocidade e da melhor forma que poderíamos e é por isso que são tempos inesquecíveis.
Minhas melhores experiências, amigos e coisas que se repercutem até hoje na minha vida, são oriundos de tais vivências e penso com muito carinho e até com um certo ar irônico ao ver o que o tempo fez com a trama da nossa história.
Distância física, brigas, trocas de casais, de objetivos...
Mas entra ano, sai ano, pessoas e mais pessoas e vocês continuam aqui.
E a foto salva no meu computador com o nome de "ontem" ainda me faz lembrar de tudo como um passado tão recente quanto o título da imagem, e tudo aquilo continua tão próximo de mim que eu às vezes me pego imaginando, pensando e querendo que tivesse sido ontem.

sexta-feira, 3 de abril de 2009


Olhou no espelho, tudo no mesmo lugar.

Jogou-se na cama impaciente. Era sempre hora de reinventar.

Seria cortar o cabelo, uma limpa no guarda-roupa, os brincos, as músicas, a leitura, os hábitos, o jeito de falar, os ambientes? Não sabia... Mas aquela mesmice conseguia tira-la do sério.

Jogou o cabelo pro lado, lançou a si mesma no espelho um olhar distinto, na tentativa de tirar o jeito "tão menina" que tinha, mas riu de si mesma, achando patética sua intenção.

Pegou na estante um livro, abriu a primeira página e leu a primeira frase e desistiu, já tinha lido, ela queria novidade.

Trocou duas ou três coisas de lugar e ensaiou um jeito de sorrir diferente, não gostou. Ainda parecia tão igual.

Essa necessidade de revolução ás vezes podia ser incômoda, precisava sempre ser outra pessoa mesmo sabendo quão cansativas(e muitas vezes inúteis) eram suas modificações, no fundo era a mesma de antes, apenas em uma moldura diferente.

Não era o cabelo, nem as palavras, nem o sorriso, nem as roupas. Ela não queria estar diferente, ela queria SER (tão) diferente...

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Bom dia!

A porta se abriu.
O tempo tinha se passado, os cabelos, os sentimentos, tanta coisa tinha sido mudada, mas quem lhe abrira a porta, era a mesma pessoa de antes e sua expectativa e vontade de correr pro abraço da anfitriã era ainda o mesmo de tempos atrás...
Logo depois pausou seus devaneios. Um pouco de bom senso e de menos nostalgia lhe fazia bem. Sendo assim, fez graça e concentrou-se em outras coisas.
Entrou no quarto. A janela aberta, a cama encostada na parede, em cima dela, o intermediário. Abraçou-o saudosa de outros tempos e quis mesmo sabendo que seria em vão, deixa-lo com um pouco do seu cheiro.
Os olhos aflitos procuraram o porta-retrato, sua foto. Achou a moldura, e onde estava a fotografia?
"Guardei"
Respondeu, entendendo o que lhe angustiava.
Guardar. Era o que ela deveria fazer.
Deitou ao lado de seu antigo amor. Antigo? Algo dentro dela perguntou. ANTIGO! Ela respondeu a si mesma em uma convicção duvidosa.
" o que você disse?"
"Nada"
Murmurou depressa, enquanto fazia festa nos cabelos com cheiro de algodão doce, na pele com cheiro de sabonete, com o sorriso mais bobo que poderia ter.
Um filme passou pela sua cabeça.
Observou os movimentos leves do corpo perfeito buscarem o violão, algo dentro de si manifestou uma certa tensão.
"bom dia..."
Os acordes e a voz saíram exatas, como costumava fazer pra ela.
Olhou pra baixo e apertou forte os dedos até as unhas machucarem a própria mão e mordeu o lábio pra prender um choro. De canto de olho, procurou os olhos tão adorados entre os cabelos e o violão, escondiam-se também, mas não propositalmente como os dela.
"E agora é só você que me faz cantar..."
Ouviu a voz correr suave e foi ouvindo o eco repetir dentro do seu coração
"Você...Me faz...Cantar" "Só...Você...cantar"
"Mas o nosso destino foi escrito sob o som de uma banda qualquer"
Seu pensamento voou para longe, dois anos atrás. A saia rodada, o salto anabela, tinha ido de surpresa ao show, estava atrasada, mas estava lá.
Lembrou-se do medo de responder a pergunta que mudou todo o curso da história.
"Promete que não sente nada por mim?"
Voltou de imediato à realidade, engolindo o choro que queimava na garganta.
"Eu me lembro em Setembro conheci minha mulher..."
Não pode evitar que os pensamentos voassem...Não foi em Setembro que se conheceram, mas em Setembro comemoram um mês daquele amor vivido em sua plenitude, em uma rede, ao som de passáros e de sussurros apaixonados.
"Você...Me faz...Cantar" "Só...Você...cantar"
De novo o eco a perturbou.
Quis sumir, quis que sumisse, quis guardar.
Queria, pelo menos naquele instante, fazer como a foto que longe do porta-retrato fingia não existir, guardada em alguma gaveta das emoções que tinham sido sufocadas. Queria não sentir...