quarta-feira, 1 de abril de 2009

Bom dia!

A porta se abriu.
O tempo tinha se passado, os cabelos, os sentimentos, tanta coisa tinha sido mudada, mas quem lhe abrira a porta, era a mesma pessoa de antes e sua expectativa e vontade de correr pro abraço da anfitriã era ainda o mesmo de tempos atrás...
Logo depois pausou seus devaneios. Um pouco de bom senso e de menos nostalgia lhe fazia bem. Sendo assim, fez graça e concentrou-se em outras coisas.
Entrou no quarto. A janela aberta, a cama encostada na parede, em cima dela, o intermediário. Abraçou-o saudosa de outros tempos e quis mesmo sabendo que seria em vão, deixa-lo com um pouco do seu cheiro.
Os olhos aflitos procuraram o porta-retrato, sua foto. Achou a moldura, e onde estava a fotografia?
"Guardei"
Respondeu, entendendo o que lhe angustiava.
Guardar. Era o que ela deveria fazer.
Deitou ao lado de seu antigo amor. Antigo? Algo dentro dela perguntou. ANTIGO! Ela respondeu a si mesma em uma convicção duvidosa.
" o que você disse?"
"Nada"
Murmurou depressa, enquanto fazia festa nos cabelos com cheiro de algodão doce, na pele com cheiro de sabonete, com o sorriso mais bobo que poderia ter.
Um filme passou pela sua cabeça.
Observou os movimentos leves do corpo perfeito buscarem o violão, algo dentro de si manifestou uma certa tensão.
"bom dia..."
Os acordes e a voz saíram exatas, como costumava fazer pra ela.
Olhou pra baixo e apertou forte os dedos até as unhas machucarem a própria mão e mordeu o lábio pra prender um choro. De canto de olho, procurou os olhos tão adorados entre os cabelos e o violão, escondiam-se também, mas não propositalmente como os dela.
"E agora é só você que me faz cantar..."
Ouviu a voz correr suave e foi ouvindo o eco repetir dentro do seu coração
"Você...Me faz...Cantar" "Só...Você...cantar"
"Mas o nosso destino foi escrito sob o som de uma banda qualquer"
Seu pensamento voou para longe, dois anos atrás. A saia rodada, o salto anabela, tinha ido de surpresa ao show, estava atrasada, mas estava lá.
Lembrou-se do medo de responder a pergunta que mudou todo o curso da história.
"Promete que não sente nada por mim?"
Voltou de imediato à realidade, engolindo o choro que queimava na garganta.
"Eu me lembro em Setembro conheci minha mulher..."
Não pode evitar que os pensamentos voassem...Não foi em Setembro que se conheceram, mas em Setembro comemoram um mês daquele amor vivido em sua plenitude, em uma rede, ao som de passáros e de sussurros apaixonados.
"Você...Me faz...Cantar" "Só...Você...cantar"
De novo o eco a perturbou.
Quis sumir, quis que sumisse, quis guardar.
Queria, pelo menos naquele instante, fazer como a foto que longe do porta-retrato fingia não existir, guardada em alguma gaveta das emoções que tinham sido sufocadas. Queria não sentir...

3 comentários:

disse...

Adorei. Muito bem escrito. Você é realmente genial.
'o intermediário' haha..tadinha.
te amo!!!!

Bia Morgana disse...

Clá, maravilhoso . Sem brincadeira, tá muito bom. Eu sempre me impressiono com a sua capacidade de descrever perfeitamente certos sentimentos...
Saudades suas!
Te amo
Beijos,
Bia

Júlia Borges disse...

E foi justamente em você que encontrei o mais belo conto de amor... Que inveja (saudável).
Que bonito, que triste, que mané...
=*