terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Chegando.

Quando vi as luzes do Rio de Janeiro se aproximando, percebi que minhas férias tinham acabado. Eu já estava muito longe da cajuína, de todas aquelas vivências.
Quando avistei as primeiras formas do Rio de Janeiro aparecendo, percebi que eu já tinha atravessado as fronteiras e estava do outro lado do meu mundo.
Distante das festas de Piripiri, do Rio Parnaíba, da paz de Barra Grande, da cozinha da minha avó...
à milhões de quilômetros da acerola, do caju, do umbu, da manga rosa, da casa da minha dinda, dos abraços da Anna Clara, das bagunças na casa da Lara, das risadas da Nathana, das farras...
Longe, muito longe de tudo que foi parte de mim durante os 35 dias das minhas férias.
O ano começava agora! e a responsabilidade já batia no meu ombro como se dissesse "Acorda!". O avião posando ia me pondo dentro do real e meu sonho ia perdendo a cor.
Alívio, ansiedade, medo, preguiça, saudade!
Estava em casa! E quando veria meu pai de novo? E quando de novo aquelas conversas, aquela comida, aquele aroma de Piauí?
Quando vi minha mala de bolinhas na esteira e o relógio no horário de verão, percebi que eu tinha mesmo acordado.
A vida real estava recomeçando...

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Somente só

Existem coisas que eu só posso ser quando estou sozinha, coisas que eu não sei fazer ou ver sob os olhos dos outros.
Características, reflexões, expressões, olhares! Manias, vícios, personalidades... Como se existisse outra Clara que só se revela pra mim mesma, no auge da minha solidão.
Talvez por isso eu goste tanto de estar só.

No máximo, na companhia do meu espelho. Para quem eu conto histórias, sorrio, jogo charme, choro... Tenho as mais distintas reações! Existe uma porção de mim, talvez a melhor, que em um ato egoísta, eu deixo escondida.
Eu canto muito quando estou sozinha. E protegida sob as minhas paredes, acho que sou muito boa. Mas a possibilidade de mostrar aos outros, me envergonha, logo passo a me criticar.

Aquela que eu mostro só pra mim, é corajosa e determinada. Destemida, enfrenta, encanta, exalta.
Olho no espelho e me lanço olhares que me emocionam, me seduzem, me traduzem, me impressionam. Como eu gosto disso que sou solitária!

Escrevo coisas que leio só pra mim, só pra essa pessoa que ninguém conhece. Acho que são as mais bonitas, as mais profundas. Então por que não consigo e nem quero mostrar a ninguém?
E como danço! Desenvolta, sem temer a nada! Sou capaz de dizer (sozinha, e apenas sozinha) que enfrento tudo, sem espadas ou escudos.
Sorrisos dos mais sinceros, e lágrimas, das mais sagradas. Tudo o que vem de mim, nessas atividades solitárias, vem da alma, é ilustre!

Mas se escuto passos, ou a porta se abrindo. (Meu Deus do céu, por que é que nunca batem na porta?), logo essa mulher tão articulada e livre murcha, se quebra em mil pedaços...
Passo a ser a menina amarrada, frustrada, observada, em cacos...

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Bonita

Cabelo curto, pra mim, sempre foi coisa pra mulher bonita. Pra mulher muito bonita!
Na minha cabeça, o cabelo seria capaz de moldar e ajustar melhor um rosto feio ou 'mais ou menos', como o meu. Na minha concepção, a solução pra quem não era extremamente bonita, seria cultivar longas madeichas.
E assim fiz, desde sempre.
Mas o cabelo foi se tornando parte da minha personalidade, do meu jeito de falar, de ser. Minha irmã me falou que eu sou a única pessoa que ela conhece que fala com o cabelo.
Sempre foi doloroso me tirar dedos, fios, cortar qualquer pedacinho que fosse da minha adorada cabeleira. Passei a achar que sem meu cabelo, eu estaria sem um pedaço de mim, seria uma completa estranha. Essa proposta me assustava, e sem pensar muito, eu negava essa possibilidade.
De uns tempos pra cá a ideia de mudança foi rondando a minha cabeça, até se tornar concreta. Um desejo. Ou mais que isso, uma meta. A ideia de tirar parte de mim, deixou de ser assustadora, mas agradável e desejada. A possibilidade de mudança antes tão sofrida, agora tão querida e esperada. Era a hora!
A vontade que foi crescendo dentro de mim, me fez esquecer o medo de parecer ridícula, o medo de não possuir a beleza necessária para ter cabelos curtos. Ainda um pouco temerosa, mas cheia de entusiasmo para a nova Clara que eu queria ver em mim, indiquei a altura desejada à cabelereira, que sem pena, retirou de mim (de uma vez só), quase a metade. Um grito (de animação e ansiedade) foi contido.
Fechei os olhos e apertei forte a minha própria mão, até estar tudo pronto.
Olhei o espelho, passei as mãos sobre os meus fios, um sorriso se fez sem esforço.
"Como é bom não ter cabelo"
Satisfeita com o que vi e com o que daqui pra frente, eu imaginei que seria.
Estranhamente, me senti corajosa e bonita. Bonita como aquelas mulheres de cabelo curto.
Mal posso esperar para ouvir os comentários: "O que você fez com seu cabelo, sua louca?!"

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

De bico calado

Tão difícil que eu me cale. Eu que falo demais, que exponho demais, que tagarelo, que me expresso pelos cotovelos...
Tão difícil que eu consiga frear minha ansiedade, meu ritmo acelerado de sensações e pensamentos.
Calei, silenciei...
Talvez por não saber dizer, talvez por não ter o que falar.
Definitivo? Nem pensar.
Tempo de uma semana, eu diria. Quem sabe uns três dias. Inconstante como sou... Pode ser amanhã.
Vamos viver assim dia após dia.
E começando por hoje eu vou ficar quietinha. Calada, caladinha...

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Cor de sonho


O azul mais uma vez coloriu um dia cinza.
Nunca tinha reparado quantas variações essa cor pode ter
"Um sentimento monocromático? uma limitação" , Que nada!
Minha aquarela azulada contém um degradê infinito.
Nesses nuances de claro, escuro, marinho, anil e petróleo
e outros tantos que eu nem sei (e nem preciso) nomear,
Me sinto colorida como nunca.
Azul de céu, de mar, de sorriso, de coração.
Desde criança, azul pra mim é cor de sonho
Toda a aquarela pra viver e essa cor em especial, pros devaneios.
Ele surgiu, cobriu ligeiro e delicado todo o cinza, com seus muitos tons.
Mas e agora que é tudo azul?
Ah, amor, agora é sempre tudo sonho...

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Correspondência

Lembra quando eu deitava no seu colo e ficava reproduzindo os seus batimentos cardíacos? Eu sorria e dizia que não sabia decifrar o que ele falava, mas parecia que à todo instante, queria conversar.
Sempre te olhei diferente do resto das pessoas, você sabe. Nunca deixei falarem mal, nunca permiti uma observação descuidada, nunca acreditei nas tantas balelas que ouvi.
Havia alguma coisa de confusa naquele coração, confusão que eu nunca consegui entender, mas abracei de qualquer forma.
Às vezes eu me perguntava se não era uma aventura grande demais pra mim, se eu realmente queria aquele turbilhão. Porque no fundo, eu sempre soube que era um daqueles alpinistas suicidas, dispostos a escalar o monte everest. Eu quis!
Eu queimo, sabe ?  Sou auto inflamável. Você foi o combustível certo para a minha total combustão.
Minha amnésia sentimental me apagava as saudades, as frustrações, as inúmeras horas desbeijadas, o frio sentido longe do seu abraço.
Boba, burra, inconsequente, seja lá o que fosse a minha vontade
ela nunca precisou dessas classificações.
Você sorria e eu tinha certeza de que eu queria mesmo era aquela sensação de deslumbramento diante do que a gente não entende.
Sabe aquela coisa de criança quando olha para o céu e tenta procurar o fim, ou o porque de tão bonito? A ignorância, o fascínio diante do mistério. Uma coisa única para se sentir.
Pretensiosamente, sempre me achei diferente dos demais pra você, e sempre achei que você fosse diferente dos demais comigo, como se tivesse coisas que a gente só pudesse ser olhando nos olhos um do outro.
Quanta arrogância a minha, achar que tenho assim tanta importância.
Nunca soube compreender o que você dizia com os olhos. Mas como acompanhei os seus silêncios!
Seu coração, sua saudade, suas vontades...Tudo que me chamasse, eu ia! Não me arrependo dos incendios provocados.
Eu nunca soube como proceder.
Se era enfrentar o minotauro com as minhas espadas e escudos, se era derrubar o gigante com a sutileza de golias, aquele tal pulo do gato eu nunca soube dar. Aceitei... Até a lua, com a sua beleza toda, guarda um dragão. Não é o que dizem?
No ranking das conquistas, nunca fui primeiro lugar. O pódio, o prêmio, a competição nunca me fez bem.
Larguei de mão esse negócio de querer vitória. Que vitória, afinal?
Deixei correr frouxo, é o que alguns dizem. Fui nobre e correta, já disseram também. O que eu penso? Não sei. O que importa? Já fiz...
E você o que pensa? Ah, tão difícil saber!
Quis e quero estar do seu lado nas conquistas, nas dores, nas perdas, nas alegrias, nos sonhos, nos desejos, até nos desvios, até nos furacões. E fiz o que pude, ocupando o espaço que me cabia, que eu achei que me cabia. Talvez eu pudesse mais, talvez se eu tivesse invadido menos.
Detesto talvez, detesto as mil possibilidades que tudo tem. Não escolher nenhuma delas é o que escreve essas palavras.
E se eu tivesse largado tudo que estava fazendo e ido atrás de você, faria alguma diferença?
Te ver, te ter, te amar... Por quanto tempo?
Eu falar o que eu penso, deixar pra lá o que eu sinto, tem alguma relevância?
Perdoar os seus erros, aceitar suas desculpas, vai mudar alguma coisa?
Eu estava aqui o tempo todo, só você não viu.
Você me esfria, você me esquenta. Sua dose de oxigênio é às vezes vital, levanta fogo, outras vezes, provoca combustões violentas, e tantas outras, sua indiferença me manda jatos estúpidos de água, capaz de apagar tudo que estava inflamando.
Você declara tanto lamento, tanto arrependimento. Como se alguma coisa nessa vida fosse definitiva!
E o que te falta pra ficar feliz? (Eu?)
Que pilhéria! Eu estou aqui.
Falta o que sempre faltou, suas respostas.
Eu te amo no escuro.  Não me choque com lâmpadas de muitos voltz, minha fotofobia não seria capaz de absorver. Me guie à meia luz, de lamparina, à luz de vela ou de abajour.
Que muito claro e muito escuro, eu não consigo entender.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Mergulho

Tinha olhos claros. "Que belos olhos!"
Verdes ou azuis? A dúvida me perturbou.
Lembrava claramente do seu cheiro, do seu sorriso. Do formato dos seus olhos e do seu olhar. Mas e a cor?
Verdes! ... ou azuis?
Um pescador desses que contam histórias, me disse que entrar no mar é ver as cores desaparecerem.
A primeira cor a sumir é o amarelo, mais fundo, o vermelho. Até o verde se juntar com o azul e desbaratinar até mesmo as sereias mais formosas.
Não sei que cor tinham seus olhos naquela noite, mas agora têm essa cor de mar quando se mergulha fundo. Bem fundo...