segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Correspondência

Lembra quando eu deitava no seu colo e ficava reproduzindo os seus batimentos cardíacos? Eu sorria e dizia que não sabia decifrar o que ele falava, mas parecia que à todo instante, queria conversar.
Sempre te olhei diferente do resto das pessoas, você sabe. Nunca deixei falarem mal, nunca permiti uma observação descuidada, nunca acreditei nas tantas balelas que ouvi.
Havia alguma coisa de confusa naquele coração, confusão que eu nunca consegui entender, mas abracei de qualquer forma.
Às vezes eu me perguntava se não era uma aventura grande demais pra mim, se eu realmente queria aquele turbilhão. Porque no fundo, eu sempre soube que era um daqueles alpinistas suicidas, dispostos a escalar o monte everest. Eu quis!
Eu queimo, sabe ?  Sou auto inflamável. Você foi o combustível certo para a minha total combustão.
Minha amnésia sentimental me apagava as saudades, as frustrações, as inúmeras horas desbeijadas, o frio sentido longe do seu abraço.
Boba, burra, inconsequente, seja lá o que fosse a minha vontade
ela nunca precisou dessas classificações.
Você sorria e eu tinha certeza de que eu queria mesmo era aquela sensação de deslumbramento diante do que a gente não entende.
Sabe aquela coisa de criança quando olha para o céu e tenta procurar o fim, ou o porque de tão bonito? A ignorância, o fascínio diante do mistério. Uma coisa única para se sentir.
Pretensiosamente, sempre me achei diferente dos demais pra você, e sempre achei que você fosse diferente dos demais comigo, como se tivesse coisas que a gente só pudesse ser olhando nos olhos um do outro.
Quanta arrogância a minha, achar que tenho assim tanta importância.
Nunca soube compreender o que você dizia com os olhos. Mas como acompanhei os seus silêncios!
Seu coração, sua saudade, suas vontades...Tudo que me chamasse, eu ia! Não me arrependo dos incendios provocados.
Eu nunca soube como proceder.
Se era enfrentar o minotauro com as minhas espadas e escudos, se era derrubar o gigante com a sutileza de golias, aquele tal pulo do gato eu nunca soube dar. Aceitei... Até a lua, com a sua beleza toda, guarda um dragão. Não é o que dizem?
No ranking das conquistas, nunca fui primeiro lugar. O pódio, o prêmio, a competição nunca me fez bem.
Larguei de mão esse negócio de querer vitória. Que vitória, afinal?
Deixei correr frouxo, é o que alguns dizem. Fui nobre e correta, já disseram também. O que eu penso? Não sei. O que importa? Já fiz...
E você o que pensa? Ah, tão difícil saber!
Quis e quero estar do seu lado nas conquistas, nas dores, nas perdas, nas alegrias, nos sonhos, nos desejos, até nos desvios, até nos furacões. E fiz o que pude, ocupando o espaço que me cabia, que eu achei que me cabia. Talvez eu pudesse mais, talvez se eu tivesse invadido menos.
Detesto talvez, detesto as mil possibilidades que tudo tem. Não escolher nenhuma delas é o que escreve essas palavras.
E se eu tivesse largado tudo que estava fazendo e ido atrás de você, faria alguma diferença?
Te ver, te ter, te amar... Por quanto tempo?
Eu falar o que eu penso, deixar pra lá o que eu sinto, tem alguma relevância?
Perdoar os seus erros, aceitar suas desculpas, vai mudar alguma coisa?
Eu estava aqui o tempo todo, só você não viu.
Você me esfria, você me esquenta. Sua dose de oxigênio é às vezes vital, levanta fogo, outras vezes, provoca combustões violentas, e tantas outras, sua indiferença me manda jatos estúpidos de água, capaz de apagar tudo que estava inflamando.
Você declara tanto lamento, tanto arrependimento. Como se alguma coisa nessa vida fosse definitiva!
E o que te falta pra ficar feliz? (Eu?)
Que pilhéria! Eu estou aqui.
Falta o que sempre faltou, suas respostas.
Eu te amo no escuro.  Não me choque com lâmpadas de muitos voltz, minha fotofobia não seria capaz de absorver. Me guie à meia luz, de lamparina, à luz de vela ou de abajour.
Que muito claro e muito escuro, eu não consigo entender.

3 comentários:

Fran carvalho disse...

Como vc entende minhas angustias. É isso!

Clara Marcília disse...

Cara Clara,
Fiquei encantada com seus textos e sua destreza com as letrinhas... fazendo jus ao seu título. Confesso que senti inveja de seu talento, apontando com tão pouca idade e que revela um futuro brilhante. Conheço o dom da escrita de seu pai e sei da sensibilidade de sua mãe, mas pelo que percebi seu talento ultrapassa a simples genética. Parabéns e sucesso.
abraços,
Clara

Anônimo disse...

Sou do Piaui e vejo vc nos olhos de seu pai, vc tem a inteligencia dele e a beleza de sua linda mãe, qundo vem ao Piaui?