quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Menina Nina e o espelho


Menina Nina é uma personagem presente no meu dia-a-dia. Que me acorda de manhã gritando, cantando ou chorando, que bagunça minhas coisas, que recusa meus beijos, mas que me derrete só falando meu nome.
Bate um pouco em cima do meu joelho, tem cabelinhos cacheados que balançam em rabos e maria-chiquinhas. O sorriso que ela mesma intitulou como "perfeito" e os olhos, que quando riem, me fazem rir de imediato.
Entre uma brincadeira e outra, notou o espelho do meu quarto. Já tinha visto, mas nunca encarado daquela maneira.
"É a Nina!" Dizia, encantada.
Bagunçou o cabelo e olhou pro espelho, pegou na barriga e de novo conferiu. A Imagem acompanhava os movimentos dela.
"É a Nina! É a Nina!" Repetia com mais força e com longas gargalhadas.
A brincadeira então começou.
Se escondia, andava para o lado e depois voltava, em saltos. O espelho retratava seus passos em tempo real. Os olhos brilhando, quanto fascínio.
Testou o sorriso, careta, língua para fora, mandou beijo. Ajeitou a roupa, levantou a blusa, dançou, sentou, ficou em pé de novo. Cada ação acompanhada de inúmeras gargalhadas e mais olhares surpresos.
Depois de algum tempo em observação, o sorriso foi dando lugar a uma expressão de descontentamento e contrariedade. Aquela mesma que faz quando é obrigada a se comportar no banco do carro, ou não mexer nas gavetas da sala.
Com pouco,  foram as lágrimas, que escorreram grossas dos olhos da minha meNINA. Sem gritos, sem estardalhaço, apenas um choro sentido. Com soluços e pausas pontuais.
Em seguida, se levantou com a testa franzida. A sobrancelha grossa pressionada, com ares de chateação das brabas. Com o dedinho balançando, pronunciou algumas reclamações ininteligíveis ao espelho, ainda com voz de choro e ares de magoada.
Empurrou, tentou derrubar e por fim, se assustou com a proposta de se olhar mais alguns instantes, saiu correndo e se escondeu em baixo da cama. Ainda soluçando alto.
Nessa tarde quente, minha doce menina, tão frágil e pequenina, de dentes ainda nascendo e de pisadas ainda não tão firmes, descobriu o tamanho do abismo de olhar pra si mesmo e se perder da reflexão do seu próprio reflexo.

6 comentários:

Henrik Fjällgren Miranda disse...

Texto escrito em 6 minutos.
=o

Bianca disse...

Que linda está a Nina! Adorei o texto Clarinha. Você e essa sensibilidade...

Júlia Borges disse...

A Nine é espertinha mesmo :)

Júlia Borges disse...

*Nina

Fran carvalho disse...

fofaaaaaaaaaaaaaaaaa

shirley disse...

Clara
Você é o máximo!
Que texto lindo, tocante, poetico.
Emocionante te ler.
Beijo da sua fã

Shy