quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Pra a gente não ouvir.


- Se existe carnaval fora de época, pode existir amor de carnaval fora de época?
Ele riu da minha ingenuidade e da minha cara de boba ao olhar pros seus olhos.
- Já te falei do meu problema com abraços?
- Já.
Me abraçou.
- Já te falei do meu problema com sorrisos?
- Já.
E me sorriu.
- Já te falei do meu problema com sotaques?
- Oxe,já.
Era de propósito, era demais pra mim. eu e meu problemas, eu e meu maior problema. Essa facilidade pra me apaixonar. Basta um abraço aconchegante, um sorriso bonito, e aquela química que já tinha acontecido, desde o primeiro olhar.Eu ia embora, eu sabia. E meu coração já saturado de confusões, não precisava de mais uma emoção que eu tinha certeza, ia doer. Mas agora eu estava com ele alí,"bem abraçadinho", como ele costumava dizer, sentindo o cheiro gostoso que vinha do seu pescoço
Ah, eu também tenho problemas com perfumes e com histórias improváveis e com tendência forte pra serem impossíveis. E ele reunia todos os meus problemas.
-Já te falei do seu problema com o mar?
quase nunca entendia de cara o que ele me perguntava, tinha sempre um jeito mais arrastado e com mais poesia de dizer as coisas.
- Deixa você mais bonita.
Ele sabia me dizer o mais clichê, da maneira mais linda, com as palavras certas, na hora certa. E não era só o que dizia, mas o jeito de verdade que as palavras dele tinham. Que verdade boa, o que ele me dizia. Que verdade boa ele existir e me falar daquele jeito.
De novo mais problemas.
- Podemos ir à Porto, podemos ir à praia de boa viagem, ao paço, ao Marco Zero...
- Só temos mais algumas horas.
- temos a eternidade.
E aquela maneira de falar da vida como se fosse uma brincadeira, e as coisas, e o tempo e o espaço, que pra ele pareciam ser de uma outra dimensão.Ou simplesmente ele era um bobo, e eu ainda mais.
- Eu vou embora.
Me abraçou mais forte.
- Olha o sol se despedindo, olha como é lindo visto daqui.
Eu vou embora, eu vou embora, eu vou embora. Só pensava nisso. E o sol parecia me dizer, e as primeiras estrelas que apareciam me apressavam.
- Eu vou embora.
- Xiiiu!
Me calou.
- Não deixa que a gente ouça.

2 comentários:

Júlia Borges disse...

depois eu volto aqui.

Júlia Borges disse...

"xiuu..."
er... não tenho muito a dizer, na verdade. mas quando o 'clichê' carrega toda sinceridade, não pode ser dito como clichê, clara...
é tudo lindo, inclusive o sol se despedindo...
Mas "xiu", não deixe calar.

Beijos