terça-feira, 15 de abril de 2008

o labirinto

Estou andando em uma estrada escura, cheia de perigos e tristeza, conforme caminho adentrando o labirinto de trevas, a estrada vai ficando iluminada. Esse sonho se repete há muitos anos e desde que o tive pela primeira vez, ainda muito menininha tive a impressão de que o mundo era uma estrada escura e que cabia a mim espalhar por ele rastros de luz. A pretensão é uma característica muito forte em mim, mas quanto a isso me justifico na genética, é herança familiar.

Desde que visto Che Guevara e corro até o jornal todas as manhãs para ler o panorama político fui taxada de radical, “vermelhista esquerdofrênica”, “comuna” e derivados. Mas independente da direção do meu pensamento político, sou um ser humano em formação cheio de idéias e questionamentos. Não dou tanta importância a nomenclaturas, classificações, pois rotular torna-se equivocado pra quem tem um objetivo maior.

Antes de aprender a ler já via as palavras como bolinhas coloridas e deliciosas, que queria tanto dominar e possuir e “revolução” embora sem saber direito seu significado sempre foi uma das mais desejadas e intrigantes.Inventei os princípios socialistas na primeira série, sem saber do que se tratava e ainda lembro do espanto da professora perguntando “quem te disse isso?”Só anos mais tarde fui entender do que se tratava.

Eu concordo que deveria ser mais calma nas discussões, respeito as diferenças e dou muito valor a elas. Às vezes acho que deveria ser mais calada, só um pouquinho mais apática, pelo menos de vez em quando.Entretanto quando tento resistir lembro da estrada e algo maior fala,grita dentro de mim e diz “escreve,fala,expõe” e é impossível fechar os olhos diante do que não concordo, calar o voz do coração.Não defender o que acredito faz a vida perder o sentido pra mim.

Agora os apelidos têm começado a me incomodar, pois tem vindo de maneira pejorativa. Como uma pessoa terapeutizada, resolvi fazer o tão conhecido e doloroso exercício do espelho, enxergar a mim mesma. Mas olho e não vejo a radical que todos enxergam, não vejo a “rebelde sem causa”, ao invés dela encontro uma menina cheia de sonhos e de vontades, que se indigna com a injustiça, com o preconceito, com a desigualdade, com a ignorância, com a covardia, que luta por direitos iguais e acima de tudo, mais humanidade.

Será radicalismo boicotar a mão-de-obra escrava, a exploração do trabalho infantil, ser nacionalista e acreditar que posso com o meu posicionamento mudar o mundo? Talvez. Mas radical ou não é a estrada que me chama, é o sonho que repete e se eu conseguir mudar ao menos uma pessoa, eu já iluminei o labirinto.

Um comentário:

Taíza Maria disse...

Como bem disse D. Helder:
"Se dou comida aos pobres, chamam-me de Santo...
Se pergunto por que os pobres passam fome, chamam-me Comunista"

Sabe, Clarinha, sinceramente desejo que seu sangue tenha cada vez mais essa superdosagem de hemoglobina... de forma que ele fique cada dia mais vermelho, mais intenso... a tal ponto que algumas vezes vc se permita sim ser a Radical (que tantos temem!!)
Porque ser radical nada mais é do que "atacar a raiz"... e em algumas situações essa é a única atitude possível... desconstruir tudo para depois reerguer o castelo dos conceitos, ideais, olhares e posturas (sejam as nossas ou as dos outros!!)
E sendo você parte do gênero humano... qualquer injustiça, desigualdade, ignorânica que ocorra em qualquer lugar do mundo é também um problema seu... um problema nosso... um problema de todo mundo que não apenas tem olhos... mas principalmente daqueles que conseguem VER!!