Pedro nasceu em Campo Maior, no Piauí, mas saiu de lá logo depois de terminar o colégio, com a desculpa de ser doutor na capital, mas o que ele queria mesmo era ir pro Rio de Janeiro estudar fotografia, e assim o fez. Conforme era sua vontade desde menino.
Anos depois sentiu saudade de casa e dos pais, com a sua câmera em mãos decidiu que ia fotografar sua cidade, o cenário onde tudo havia começado e onde lhe dera o primeiro impulso de correr mundo afora.
Com o título de "batedor de retrato" foi recebido pelos pais com abraços afetuosos. Queriam mesmo que ele estudasse medicina e morasse mais perto, mas pai é "bicho besta" (como dizem por aquelas bandas) e por fim, acabam orgulhosos dos filhos, sejam eles o que forem.
O festejo de Santo Antônio mal tinha começado, restava a Pedro duas semanas por lá.
Começada a procissão, Pedro perdeu-se na multidão que seguia cega e devotada a imagem de santo Antônio. Com a câmera em mãos, ficou enxergando o espetáculo pelas lentes.
Viu uma velhinha com um pano na cabeça e vestido florido, achou graça, um click. Viu a expressão de satisfação do patrono da festa que carregava a imagem de Santo Antônio com toda a responsabilidade, admirou-se, outro click.
Viu uma criança que empurrava os outros e fazia baderna atrás de um cachorro magro, mais um click. Estava começando a gostar da festa.
A lente de sua câmera passeou pela multidão que caminhava a esmo, avistou Maria. Mas à essa altura estava longe de saber que era esse o nome daquela moça tão formosa. Clicks e mais clicks, quis registrar toda a movimentação dela. Depois que viu Maria, não viu mais nada.
Maria adorava essa época. Mais que carnaval e mais que fim de ano. Nascida e criada em Campo Maior, adorava ver a cidade nessa agitação toda. Irmã de duas meninas namoradeiras - Ana e Antônia- Maria era o que podia se chamar de "cética". Não acreditava muito em paixão e nem se interessava pelos rapazes com os quais convivia. Em todo caso, não era muito cobiçada. Não por falta de beleza ou qualidades, mas possivelmente por não dar espaço para tais galanteios.
Sufoca pela multidão, saiu escapando entre as pessoas para tomar um ar. Sentou-se na calçada e ficou vendo tudo acontecer como em filme. Tinha essa mania de imaginar a sua vida cinematográfica. O céu exibia estrelas e milhares de constrelações e Maria tinha impressão de que estava mais bonito que nunca, só mesmo pra'quela ocasião que considerava tão especial.
Deixando seu objetivo de fotografar a procissão, Pedro saiu à procura da moça que tinha lhe roubado a atenção desde o primeiro instante. Avistou-a sentada na calçada, tão sozinha e pensativa, o céu e a multidão servindo de moldura. Mais click em sua câmera.
Seus olhares se cruzaram e as coisas ficaram embaçadas, só um ao outro ficavam cada vez mais nítidos. Sorrisos foram trocados.
Maria passou a imaginá-lo parte do filme que inventava e Pedro decidiu que ia fotografá-la, mas pelas retinas de seus olhos cada vez mais encantados por ela.
A conversa e o namoro de olhares na calçada durou a procissão inteira e se repetiu durante todos os dias do festejo. Os dois pareciam de mundos diferentes, mas adoravam desvendar um ao outro.
Enquanto Maria se perguntava confusa o que acontecia, Pedro se confirmava cheio de certeza.
Quando finalmente se beijaram, Maria achou que o céu fosse cair sobre os dois, tamanha foi a sua sensação de vertigem e Pedro tem certeza de que estavam acima das estrelas naquele instante.
Maria achava engraçado a maneira de Pedro de falar tudo que tinha "s" e quando voltava pra casa ficava imitando e rindo sozinha, causando estranhamento por suas irmãs, que nada sabiam do que acontecia. Pedro achava bonito o que Maria dizia e também o jeito dela de dizer as coisas. Quando ela ia embora ficava um tempo ainda prostado à porta de sua casa pensando "Maria, cheia de graça!"
Terminado o festejo, a história de Pedro e Maria estava longe de ter fim. Não se aguentaram de saudade, não conseguiram sustentar nem uma semana a ideia de viver um sem o outro.
Vão vivendo então de viagens e mais e viagens e cartas demoradas e repletas de saudade. De Rio à Piauí, os dois vão vivendo esse romance intercultural.
Sem saber ainda o final, Maria vai somando cenas e sensações à seu filme, que já é um longametragem e Pedro vai focando Maria por suas retinas ou pela lente de sua câmera, à cada foto que tira.
3 comentários:
Clarinha, minha flor. (vou me dar o direito de te chamar assim. Não entenda o minha flor como pronome que tias utilizam em festas familiares.)
Você é tão completa por palavras. Ora te imagino escrevendo um livro, ora como contadora de estórias.
Maria e Pedro são mais um conto destes que todos deviam viver. Não só pelo enrendo em si, mas pelos detalhes que compõe suas vidas.
PS: Eu adoro os seus comentários!!!
Clarinha, já pensou em fazer cinema? :)
Você tem aquele dom tão encantador que algumas pessoas têm de conseguir, apenas usando palavras, com que imagens brotem nas retinas de quem lê.
Se não pensou, pense :)
a hist q devia nos levar p caruaru p ver FBI...
ja começou a outra?
a proposito essa é perfeita!
bom ta c vc pertim!
bjim
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