domingo, 3 de maio de 2009

Caixas e recordações

Tenho uma mania curiosa de arquivar as coisas. Tanto as memórias, imagens, dias, sensações, quanto cartas, recadinhos em guardanapos, e outras coisas que tem memória afetiva forte, porque devido a sensibilidade que me cobre a alma, me tocar e me emocionar é muito fácil. Então vou guardando em caixas, em pastas, em gavetas as pequenas lembranças paupáveis e as que não são físicas vão ocupando as milhares de gavetas da minha memória e coração, cuja amplitude fazem caber datas, cheiros e olhares.
Minha desorganização tanto interna quanto na arrumação do quarto, fazem essas recordações caírem em minhas mãos, de repente, em uma tarde à toa, de um domingo como esse.
Quando os bilhetes são mais importantes e de lembranças mais próximas, as quais ainda não posso remexer sem que me doa o cantinho do peito, ponho dentro de livros que a natureza distraída me faz esquecer e só cruzar com eles muito tempo depois. Encontro que me causa muitas risadas e suspiros saudosos e nostálgicos.
Esqueço muito fácil das coisas, conto aos meus amigos dez vezes a mesma história e quando percebo que me olham um tanto entediados pergunto "Já contei essa?" , cabeças balançando sem graça são minha resposta, mas contrariando a essa característica, lembro-me de datas, de frases, de acontecimentos que pasmam a mim mesma, às vezes. Talvez minha memória seja seletiva e só guarde o que , de fato, importa.
Nas caixas fotos, cartões de aniversário e meus diários, que escrevo fielmente desde os sete anos. A pouco tempo me desfiz de três diários, preenchidos com dois anos muito valiosos da minha vida. Por covardia, claro. Por medo de conviver com as vivências frescas, queimando na gaveta ao lado da minha cama, enquanto eu tentava dormir. Não poderia descrever o quanto me arrependo! Mas agora ando aprendendo a conviver com as memórias, por mais que me doam um pouquinho por esse prazer inenarrável de se encontrar consigo mesma há um ano, um mês, uns dias atrás. Reviver as emoções, rir ironicamente por saber o fim da história e passar o resto do dia nessa sensação de saudade saudável e gostosa e arquivar mais essa emoção nas caixas de diários e do coração.

Um comentário:

Yke Leon disse...

"Reviver as emoções, rir ironicamente por saber o fim da história e passar o resto do dia nessa sensação de saudade saudável e gostosa"
É exatamente essa sensação que se tem quando se acha aquele papel, ou aquela determinada coisa que te lembre algo que foi importante. A gente passa o resto do dia lembrando daquilo e rindo por ver o quanto a gente - quase sempre - foi tolo e claro, por já conhecer o final.
Clarinha, avante com as letrinhas, sempre!